Bell: voyeur apimentando roteiro fracote.
Não acho que ter participado de uma animação como Tintim possa dar uma guinada na carreira de Jamie Bell. Afinal esses filmes que captam os movimentos de atores podem fazer grande sucesso, mas seus astros continuam na mesma. Basta ver a atuação de Zoe Saldaña (a melhor coisa) em Avatar (2009), que embora impecável a deixou de fora das premiações - e ainda lhe deixou como desconhecida do público de dois bilhões de espectadores. Outro caso notável é de Andy Serkis, que virou um especialista nesse tipo de trabalho (seja como o pavoroso Smigle de O Senhor dos Anéis ou o arrepiante macaco de Planeta dos Macacos – A Origem e está também em Tintim), todo mundo elogia suas performances, mas ninguém lembra de sua cara (ele aparece como ele mesmo em De Repente 30 como o chefe de Jennifer Garner). Falando assim, a trabalheira da captura de movimentos parece ingrata, mas deve ter as suas compensações (o trabalho com um determinado diretor, um sucesso no currículo...). Escrevi tudo isso só para dizer que acredito que o papel romântico de Jamie Bell na nova versão de Jane Eyre deve lhe render mais frutos do que o novo blockbuster de Spielberg. Desde que estrelou Billy Elliot (2000), Bell fez mais de uma dezena de filmes (está certo que os grandes diretores só lembravam dele para pontas como e Peter Jackson em King Kong/2005 e Clint Eastwood em A Conquista da Honra/2006) , mas foi com esse Olhar do Desejo que deixou claro que não queria ser mais o menino filho de carvoeiros que queria ser bailarino. Bell interpreta Hallam Foe, um adolescente bem nascido, mas que tem problemas no relacionamento com o pai (Ciarán Hinds, que tem cara de pai do Christian Bale) e a madrasta (Claire Forlani). Foe acredita que sua mãe foi assassinada por um complô do casal e para aliviar o estresse da adolescência ele espia toda a cidade. Foe é um voyeur que além de observar a intimidade dos outros, ainda os registra em diários. A coisa não melhora quando a madrasta percebe os hábitos do enteado e depois de uma transa desajeitada ele acaba procurando o rumo ao ir para a cidade - onde conhece uma mulher que é a cara de sua mãe (Sofia Myles) e trabalha num hotel. A premissa do filme é até interessante (um adolescente conflituoso preso ao passado), mas peca pelo ritmo arrastado e o tom superficial com que explora seus personagens (sem falar os rombos no roteiro, afinal como Hallam consegue viver num relógio abandonado por tanto tempo em condições insalubres, sem comer, beber ou tomar banho, escovar os dentes e ainda estar saudável?). A coisa é tão ralinha que bons momentos para explorar os conflitos dos personagens são desperdiçados. Já que faltava assunto, o diretor resolveu explorar Bell como sex symbol, lhe colocando em cenas apimentadas onde ele não perde o tom do personagem. A carreira de Bell está cheia de filmes como esse, com algum estilo e idéias bacanas, mas que se perdem nas mãos de seus diretores pretensiosos. A diferença aqui é só o tom sexual da trama. Nas mãos de um diretor maduro a coisa teria ficado muito melhor.
Olhar do Desejo (Hallam Foe - Inglaterra/2007) de David Mackenzie com Jamie Bell, Sofia Myles, Ciarán Hinds, Claire Forlani e Ewen Brenner. ☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário