Nicole, Lucas e Russell: cura gay.
O australiano Joel Edgerton estreou na direção com o eficiente O Presente/2015 e com a boa recepção resolveu alçar voos mais altos. Em seu projeto seguinte, adaptar a obra de Garrard Conley sobre um adolescente submetido ao controverso tratamento de "cura gay", Edgerton chamou atenção da mídia e de um elenco de respeito que embasou o filme para estrear em meio à temporada de ouro do cinema americano. A bilheteria minúscula (menos de sete milhões nos cinemas americanos) lhe custou passar em branco nas premiações e uma polêmica com o não lançamento do filme nas salas brasileiras (lamento informar queridos, mas todo ano centenas de filmes são lançados diretamente no mercado de home video por serem considerados pouco rentáveis nos cinemas). Embora no alto dos créditos estejam os oscarizados Russell Crowe e Nicole Kidman, o grande peso da narrativa recai sobre os ombros de Lucas Hedges (indicado ao Oscar de coadjuvante por Manchester à Beira Mar/2016). Hedges interpreta Jared Eamons, jovem de dezoito anos, filho de um pastor (Crowe) e de uma mãe recatada e do lar (Kidman). Jared tem uma namorada da mesma idade, mas diante das investidas da moça ele percebe que existe algo de diferente em seus gostos. Ele acaba indo parar num centro de tratamento para homossexuais, onde deve aprender a se comportar como um rapaz heterossexual e parar de pecar diante de seus pensamentos sobre outros rapazes. Ao tocar em um assunto tão polêmico, o cineasta Joel Edgerton realiza um ótimo trabalho, optando pela discrição mesmo nos momentos mais espinhosos da história. Sua abordagem do tal tratamento é bastante sóbria (e o próprio diretor interpreta o mentor do tal tratamento) e deixa o espectador tirar suas próprias conclusões. A opção pela narrativa introspectiva (o que pode ser conferido até na fotografia um tanto desbotada e na trilha sonora) deixa o filme ainda mais incomodo, sobretudo quando deixa o foco recair sobre as relações familiares de Jared com a revelação de sua homossexualidade. Nicole, Crowe e Edgerton estão convincentes em seus personagens, mas o destaque vai mesmo para Hedges, que desenvolve o protagonista entre a negação, a rejeição e a aceitação do que se é. O grande problema do filme fica por conta da edição, cujas idas e vindas não acrescentam muito ao desenvolvimento da trama, pelo contrário, a deixa bastante confusa, sem que o espectador se dê conta da ordem de alguns fatos na trajetória do protagonista. Boy Erased é um belo passo do diretor Joel Edgerton rumo à maturidade como diretor, sem sensacionalismo, histeria ou melodramas, mostra-se um filme seguro da história que tem para contar em tempos de intolerância, além disso, o Edgerton conseguiu arrancar um trabalho memorável até do Red Hot Chilli Pepper Flea. O cara é bom mesmo!
Boy Erased (EUA/2018) de Joel Edgerton com Lucas Hedges, Nicole Kidman, Russell Crowe, Joel Edgerton, Xavier Dolan, Britton Sear e Flea. ☻☻☻☻
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