Capitão e seu algoz: continuação coerente, mas sem o brilho do longa anterior.
Quando o primeiro filme do Capitão América (2011) foi lançado eu ficava até irritado com todo o burburinho gerado pelo medo do antiamericanismo prejudicar as bilheterias do filme. A preocupação era tanta que o fato dele ser o "Primeiro Vingador" ficava mais evidente em alguns cartazes do que propriamente o nome do herói. Triste era ver que apesar de todo o cuidado na produção, o filme se tornou um dos menos rentáveis da fase pré-Vingadores elaborada pela Marvel (tanto que o encontro dos heróis na telona tinha até um flashback da origem do herói patriota). Se o primeiro filme trazia uma estética irresistivelmente retrô (e um roteiro bem costurado que brincava com a imagem realista do Capitão América com as fantasias que ele evoca), no mundo depois de Os Vingadores/2012, o herói deveria apresentar um novo conceito. O caminho mais óbvio era investir no choque de Steve Rogers ao viver num mundo completamente diferente ao que estava acostumado, já que no final de sua primeira aventura solo ele é descongelado várias décadas depois e escalado pela S.H.I.E.L.D. para lutar contra inimigos variados. O mais curioso é que os filmes do Capitão são os que mais possuem elementos para as aventuras do grupo de heróis, foi assim no primeiro filme com a descoberta do misterioso Triceracto que se torna o objeto das batalhas com Loki em Vingadores e, agora, o filme gira em torno da provável queda da S.H.I.E.L.D. perante a ameaça da organização nazista que o Capitão lutava contra em sua primeira aventura, a Hydra. Apesar do segundo filme ser bastante diferente do anterior, sua trama consegue ser bastante coerente com o que vimos anteriormente, já que Steve Rogers (mais uma vez vivido por Chris Evans) começa a perceber que as relações entre o bem e o mal nos dias atuais é bem mais confusa - e as coisas só pioram quando a vida de Nick Fury (Samuel L. Jackson) é colocada em risco. Rogers acaba sendo acusado de algo que não cometeu e conta apenas com a ajuda de Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o novo amigo Sam Wilson (Anthony Mackie) a maior parte do tempo para descobrir o que a Hydra está tramando. Sabe-se apenas que a organização conta com a ajuda do misterioso Soldado Invernal (cujo a identidade eu suspeitava desde que lembrei do primeiro filme) para fazer o serviço sujo. O mais interessante é quando nos damos conta de como os vilões estão armando seu novo plano - algo assustadoramente verossímil, contemporâneo e que somente alguém com um olhar crítico potencializado por ser de outra era seria capaz de perceber. É absurdamente funcional o paradoxo entre liberdade e segurança que o filme apresenta, no entanto, apesar das cenas de ação elaboradas, o filme demonstra ser menos coeso que o anterior. Eu não entendi muito bem como o filme foi cair nas mãos dos irmãos Russo (Anthony e Joe) que são mais conhecidos pela produção da sitcom Community (2009-2012). Eles parecem fazer o filme engasgar várias vezes no meio do caminho - e as dezenas de frases engraçadinhas que aparecem na narrativa não ajudam (aquelas sobre uma pretendente para o Capitão chegam a enjoar). Mesmo não tendo um roteiro tão bem construído como o anterior, o filme consegue ser relevante dentro do universo construído pela Marvel (sem aquele ar de história improvisada para faturar milhões que podemos perceber em Homem de Ferro 3) e reforça a boa índole do Capitão como um herói em estado puro como se pedia antigamente - o mais incrível é como Chris Evans encarna seu herói com insuspeita perfeição.
Capitão América 2 - O Soldado Invernal (Captain America 2: The Winter Soldier/EUA-2014) de Anthony Russo & Joe Russo com Chris Evans, Samuel L. Jackson, Robert Redford, Scarlett Johansson, Anthony Mackie e Hayley Atwell. ☻☻☻
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