sexta-feira, 9 de setembro de 2011

CATÁLOGO: Do Jeito que Ela é


Katie Holmes: em busca de um forno.

Quem acompanha o blog há algum tempo deve ter percebido que tenho uma queda por filmes independentes. Gosto deles porque acho que não ficam perdendo tempo com o que é acessório (efeitos especiais, exagero no uso de trilha sonora, astros que esquecem de atuar...) e esquecendo o que realmente importa. Claro que existem exceções, vícios de toda espécie e hypes que não se justificam, mas na maioria das vezes é comum ver sinceridade e originalidade nestas produções de pequeno porte que tem feito a graça dos cinéfilos desde meados da década de 1980. Do Jeito que Ela é serve de exemplo de trama que vai direto ao ponto num roteiro enxuto e que serve para boas atuações de seu elenco sem ter pretensão de ser genial ou cabeça. O filme mostra uma garota com pinta de maluquete, April (Katie Holmes, correta e antes de se casar com Tom Cruise) que deve preparar a ceia de Ação de Graças para os seus familiares que não vê a algum tempo. Como o filme é anunciado como comédia é de se imaginar que tudo que puder dar errado, dará! Não bastasse todos os ressentimentos familiares que estarão em jogo mais uma vez (todos personificados magistralmente pela mãe vivida por Patricia Clarkson, que acabou indicada ao Oscar de coadjuvante), April ainda tem problemas sérios para preparar o peru da ceia, uma vez que seu forno acaba apresentando defeito! Este fato corriqueiro irá revelar ironicamente detalhes não imaginados entre os moradores do prédio de April e ainda um pouco mais de nossa protagonista. Enquanto vemos April ser descascada diante da câmera - mostrando de debaixo do cabelo ruivo mal pintado, das roupas e penduricalhos moderninhos existe uma garota que só quer receber bem os pais e deixar para trás seu estigma  de filha problemática - acompanhamos sua peregrinação atrás de um vizinho caridoso que possa lhe emprestar o forno. O roteiro consegue ser ironico e inofensivo ao mesmo tempo, desenvolvendo seus personagens com honestidade e auxílio de um elenco competente que sabe lidar com momentos bem humorados (como a cena de ares dramáticos em que a mãe pede para que os filhos não deixem April perceber que jogam a comida fora), tristes (como a mesma mãe mandando a filha caçula vivida por Alisson Pill pedindo para ela parar de cantar) e até violentos (a surra sofrida pelo namorado de April). Mas, apesar de cômico existe um bocado de drama em Do jeito que ela é, sorte que Hedges não deixa a coisa pesar nem quando exibe as marcas do sofrido câncer que a família tem de lidar. Embora exiba algum desleixo visual, o filme é cheio de boas intenções e não subestima a inteligência dos espectadores, mesmo quando inventa cenas improváveis como a matriarca mal humorada andando de carona na moto, o peru sendo sequestrado ou tendo a sua coxa remendada. O longa tem alma de filme família, mas trata-se de uma dramédia que aborda de forma simpática um tradicional feriado americano que conhecemos pouco, mas que mostra-se uma data interessante para uma família juntar os seus próprios pedaços. Hedges demonstrou mais uma vez ter mão boa para lidar com problemas familiares, são de sua autoria o roteiro de Gilbert Grape (1993) e Um Grande Garoto (2002), além de seu filme seguinte, a dramédia Eu, Minha irmã e Nossa Namorada (2007), mas foi por este longa de estreia que ganhou o prêmio do júri em Sundance.

Do Jeito que Ela É (Pieces of April/EUA-2003) de Peter Hedges com Katie Holmes, Patricia Clarkson, Oliver Platt, Alison Pill, Derek Luke e John Gallagher Jr. ☻☻☻ 

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