sábado, 7 de novembro de 2020

PL►Y: Ninguém Sabe que Estou Aqui

 
Garcia: reparos com o passado.

Nas últimas décadas do século XX era comum haver escândalos sobre cantores que não cantavam de verdade. Não se tratava de playback, mas pessoas que serviam de imagem para a voz de pessoas que não se enquadravam nos padrões que o mundo mágico das celebridades considerava adequado para atrair o público. Ninguém Sabe que Estou Aqui do diretor estreante Gaspar Antillo se inspira nestas histórias para contar a história de Memo, um menino de voz encantadora, mas que não tinha o visual considerado adequado para conquistar multidões. Num acordo empresarial, a voz de Memo acaba sendo usada por um garoto mais magro e de visual mais propício para atrair o público infanto-juvenil. Coube ao pequeno Memo crescer vendo o sucesso de outro através de sua voz. Crescido (e vivido agora por Jorge Garcia, que ficou famoso com a série Lost e a capa daquele CD do Weezer), Memo se torna um homem que vive recluso numa ilha com o tio e afastado de todo o resto da humanidade. Silencioso e remoendo seu passado, ele se deve uma reparação pessoal com o que aconteceu em sua história. É preciso resgatar sua voz e também sua história. Eis que um acidente acontece e Memo chama atenção de uma moradora local que acaba descobrindo aquele segredo, acarretando mudanças naquele universo. Antillo faz um filme quase sem diálogos, por vezes arrastado, mas que investe em momentos de sonho e contrastes com muita eficiência. A bela fotografia de uma ambientação paradisíaca ressalta ainda mais a intenção de fazer um filme diferente sobre traumas e melancolia, mas sem perder de vista a intenção de torcermos pelo seu protagonista. Jorge Garcia tem uma ótima atuação e está bastante convincente como o menino crescido à sombra de uma celebridade. Sua mágoa é palpável e quando o mundo da internet o revela para o mundo, as consequências são inevitáveis, seja com o pai, os fãs daquela voz e principalmente o resultado de um ato infantil impensado (e que se apresenta como o principal motivo de reparação com o mundo).  É curioso contrapor o início e a última cena de Ninguém Sabe que Estou Aqui, são pontos que se encaixam com perfeição enquanto até ali parecemos assistir a um outro filme, bem distante do mundo real e dos holofotes. É neste recheio diferente e na costura eficiente destes contrastes que Antillo tem seus maiores desafios, mas os cumpre com a segurança de um veterano que lhe garantiu um prêmio no Festival de Tribeca deste ano. 

Ninguém Sabe que Estou Aqui (Nadie Sabe Que Estoy Aqui / Chile - 2020) de Gaspar Antillo com Jorge Garcia, Lukas Vergara, Millaray Lobos, Luis Gnecco, Alejandro Goicc, Gastón Pauls e Eduardo Paxeco. ☻☻☻

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