Nascido na Califórnia em 1986 o diretor Ryan Coogler já tem seu lugar na história por colocar seu terceiro filme, Pantera Negra (2018) como o primeiro longa de super-herói indicado ao Oscar de Melhor Filme do ano. Se o grande prêmio não saiu para ele, pelo menos conseguiu converter em estatuetas três (figurino, design de produção e trilha sonora) das sete categorias a que concorria. Em tempos em que a representatividade é um aspecto cada vez mais observado, a produção da Marvel chamou atenção por trazer o discurso certo na hora certa. Em seus filmes anteriores o diretor também manteve o olhar atento para a questão racial, se anteriormente fez sucesso ao mudar o verniz do antológico Rocky Balboa de Sylvester Stallone alterando o foco para o filho perdido de seu amigo Apollo no bem-sucedido Creed (2015), que rendeu até uma sequência (assim como Pantera Negra terá assim que a Marvel decidir o que fará com seu herói após o precoce falecimento de Chadwick Boseman), em sua estreia o tom é bem mais pessimista. É interessante perceber que, embora seja curta e com gêneros diferentes, a cinematografia de Coogler possui uma certa costura sobre o que é ser negro e o seu lugar no mundo. Iniciar sua carreira com um filme baseado em fatos reais como Fruitvale Station lhe confere um peso danado, afinal, muito antes do casos recentes que vemos nos telejornais, Coogler já chamava atenção para os atos de violência que ganham outro viés quando o observamos sob a lente do racismo. Aqui ele conta com uma atuação marcante de Michael B. Jordan (o ator assinatura de Coogler) para contar a história de Oscar Grant III, se o nome parece ter algo de shakesperiano, a história dele é bem mais realista. No último dia de 2008 o rapaz de 22 anos foi celebrar o início do ano novo com a namorada e alguns amigos e acabou assassinado pela ação de policiais numa estação de trem. Coogler conta esta história com uma introdução que não se sabe se é real ou encenada com atores, mas que cria o nó na garganta que perpassa toda sessão enquanto acompanhamos o último dia de Oscar. Dos tropeços no relacionamento com a mãe de sua filha, dos afagos com a menina, passando pelos desentendimentos com a mãe (e os momentos de carinho também), a câmera de Coogler segue uma linha documental para construir um mundo de verdade, com pessoas de carne e osso, com qualidades, defeitos e dificuldades, mas que ganha contornos de suspense perante a tragédia que já sabemos que acontecerá. Enquanto o trem segue seu caminho pela noite, Coogler nos instiga pelo que está prestes a acontecer e a tensão crescente se constrói sem exageros numa tragédia do cotidiano que se repete. Além do bom trabalho de seu ator, ele está muito bem acompanhado em cena, especialmente por Octavia Spencer que interpreta sua mãe e Melonie Diaz, que interpreta sua namorada. Fruitvale Station é um daqueles filmes que cria indignação quando termina e faz pensar se houve mudanças deste a morte de Oscar quando ligamos a televisão todos os dias.
Fruitvale Station - A Última Parada (Fruitvale Station / EUA - 2013) de Ryan Coogler com Michael B. Jordan, Octavia Spencer, Melonie Diaz, Kevin Durand, Ahna O'Reilly e Ariana Neal. ☻☻☻☻
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