Um casal resolve passar alguns dias de férias entre montanhas, muito frio e práticas de esqui tudo vai bem até que uma avalanche os surpreende na varanda do hotel. Diante da promessa de uma tragédia, a mãe abraça seus filhos enquanto o esposo foge da mesa em que estava com a família. Passado o susto, sem mortos ou feridos, resta à família digerir aquele acontecimento traumatizante, especialmente a esposa que não se conforma com o comportamento do esposo. Este é o ponto de partida do sueco Força Maior/2014 que capricha na tensão de seus personagens e coloca a plateia para pensar enquanto solta faíscas de humor tão discreto quanto incômodo. O filme recebeu o prêmio da mostra paralela Um Certo Olhar no Festival de Cannes, foi lembrado na categoria de Filme Estrangeiro no Globo de Ouro (por ser "europeu demais" acabou ficando fora do Oscar) e agora recebe uma versão americana que deve motivar muita gente a procurar o original. Dirigido pelo premiado Jim Rash e seu parceiro Nat Faxon (que antes dirigiram o simpático O Verão da Minha Vida/2013) o filme investe mais no tom cômico desta treta familiar... para isso conta com Will Ferrell e Julia Louis-Dreyfus para ganhar logo a simpatia da plateia (pelo menos esta era a ideia). O ponto de partida é o mesmo em ambos os filmes, mas a forma como os diretores (que assinam o texto ao lado de Jesse Armstrong da série Succession) conduzem a situação é bastante diferente. O que poderia dar novo fôlego para a história acaba diluindo o que o filme tinha de melhor: a tensão de um casal em crise (o que assistíamos como se segurássemos as engrenagens de um relógio no filme de 2014). É verdade que Julia tem ótimos momentos como a esposa em cena, de forma que sua raiva e ressentimento se tornam palpáveis desde o fatídico episódio, mas seria muito mais interessante se o marido vivido por Ferrell não fosse mais imaturo que seus filhos pré-adolescentes (o que o torna bem diferente do protagonista do filme original). Diante de seu comportamento bobalhão fica difícil torcer para que seja perdoado. Fora isso, o filme investe em coadjuvantes que não ajudam no desenvolvimento do todo (temos até a sumida Miranda Otto como a europeia desinibida), ao menos o casal amigo vivido por Zach Woods e Zoe Chao parecem pessoas de verdade e colaboram no dilema dos personagens. Atenuando a densidade da narrativa e mudando uma situação aqui e outra ali, o filme procurar ter sua própria voz, mas acaba se perdendo ao parecer como uma comédia mediana sobre um casal em suas férias frustradas. No entanto, serve como exemplo emblemático de como o cinema americano e o cinema europeu podem contar a mesma história com resultado muito diferente. Sendo assim, vale destacar que Julia Louis-Dreyfus foi o motivo de eu considerar o filme mais recomendável do que assistível.
Downhill (Downhill/EUA) de Jim Rash e Nat Faxon com Julia Louis-Dreyfus, Will Ferrell, Zach Woods, Zoe Chao, Miranda Otto, Giulio Berruti. ☻☻☻
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