Isabella e Luca: laços de família. |
Talvez o filme O Pai de Itália tenha sido concebido para ser uma comédia romântica simples sobre os encontros e desencontros de um casal. Este fato fica um tanto evidente quando olhamos a estrutura do roteiro com o acaso no início, os desentendimentos no meio do caminho, o nascimento de um romance, a desilusão e o desfecho que demonstra que o filme não era nada daquilo que você esperava. Para começar o protagonista é um rapaz que ainda não se recuperou do fim do seu relacionamento com namorado. As primeiras cenas é para demonstrar que o término do namoro ainda não foi digerido e Paolo (Luca Marinelli do excepcional A Solidão dos Números Primos/2012) ainda vaga por aí em busca de uma história de amor. Se as feridas ainda não cicatrizaram, elas ficam cada vez mais em segundo plano quando Mia (Isabella Ragonese) cruza o seu caminho precisando de ajuda. Mia está grávida e ainda não sabe muito bem o que fazer da vida dali em diante. Embora ela não se importe muito com isso, ela busca de um pouco de amparo e vê em Paolo o companheiro que precisa naquele momento em uma jornada que ela não sabe muito bem até onde leva. De início a ideia parece encontrar o pai da criança, depois para reencontrar a família dela e sentimentos começam a aparecer entre o casal, principalmente uma cumplicidade que não se encontra todo dia. Aos poucos um começa a servir de suporte para o outro e a esperança de colocar a vida na "ordem" comum das coisas começa a crescer e motivar os dois a embarcar num relacionamento que parece funcionar. É neste momento que o filme de Fabio Mollo (que também assina o roteiro ao lado de Josella Porto) trai as expectativas do espectador e apresenta que a vida daqueles dois personagens está bem longe de ser uma comédia romântica, está mais baseada na vida mesmo, repleta de inseguranças, fugas e suas linhas tortas com escrita certa. São nas entrelinhas de uma história de amor camuflada de convencional que o filme tem os seus melhores momentos ao abordar a bissexualidade de Paolo de forma bastante natural, a gravidez de Mia sem moralismos e o companheirismo de suas pessoas que pode ser vista como a origem de uma família para além dos laços sanguíneos. Foi no golpe do penúltimo ato que me dei conta de como o filme me envolveu, de como a vida pode parecer seguir suas regrinhas, mas que ela não é tão simples assim. Talvez por isso, no último ato a emoção seja capaz de tomar o expectador de vez e perceber que embora despretensioso, O Pai de Itália fale de amor com tanta propriedade, para além de homem, mulher, sexualidade, gênero ou daquela bobagem que serve de matéria prima para filmes água com açúcar. O amor que aparece aqui é aquele em estado puro, daquele se importa e nasce de forma quase imprevisível diante dos caprichos do destino de qualquer mortal.
O Pai de Itália (Il padre d'Italia / Itália - 2017) de Fabio Mollo com Luca Marinelli, Isabella Ragonese, Anna Ferruzzo, Mario Sgueglia, Federica de Cola e Esther Elisha. ☻☻☻☻
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