quarta-feira, 25 de novembro de 2020

PL►Y: Era Uma Vez um Sonho

Glenn, Amy e Owen: desperdício.
Era Uma Vez um Sonho é baseado no livro escrito por J.D. Vance que por aqui recebeu o mesmo nome (em inglês parece uma dissertação de mestrado: Hillbilly Elegy - A Memoir of a Family and Culture in Crisis). O livro chamou atenção pelo seu olhar direcionado para uma parcela específica da população dos Estados Unidos, aquela que sofreu com as sucessivas crises econômicas das últimas décadas do século passado com fechamento de várias indústrias, aumento do desemprego e subemprego de parte da população proletariada do Tio Sam. O livro é um relato biográficao de seu autor que aproveita para dissertar um pouco sobre a realidade que o cercou na infância e adolescência. Esta mistura rende discussões acaloradas até hoje sobre a obra, especialmente por suas conotações políticas perante à ótica do país que se vê diante do imbróglio Trump x Biden. A obra foi cobiçada por vários estúdios e diretores, terminando nas mãos do diretor Ron Howard e da Netflix. Com uma obra destas nas mãos de um diretor oscarizado no comando de atrizes renomadas Glenn Close e Amy Adams o filme era considerado um dos favoritos ao Oscar do próximo ano. Pelo menos era até que foi lançado na plataforma da Netflix. Quem leu o livro percebeu que toda a contextualização da história foi descartada, cedendo espaço para uma trama melodramática e que abusa dos flashbacks para emperrar desenvolver sua história. Uma das perguntas que fica ao final da sessão é: que história? O roteiro condensa as relações de J.D e sua família de uma forma tão carregada que fica difícil se envolver com a história do menino que cresceu ao lado da mãe (Amy) e da avó (Glenn) que tentava dar conta da família que sempre atravessou dificuldades. Na sucessão de conflitos, brigas e discussões que o filme apresenta, não há respiro. As relações são ásperas e as atuações beiram o exagero. Tem muito choro, muito grito, compondo um desespero que nunca soa autêntico. A ideia de compor a narrativa com idas e vindas para contar duas fases da vida do autor só colabora para deixar o filme mais vazio e sem uma narrativa crescente. Ver duas grandes atrizes indicadas várias vezes ao Oscar (e nunca premiadas) em papéis unidimensionais é um verdadeiro desperdício com seus trabalhos picotados pela edição sofrível utilizada pelo filme. Não houvesse toda a pretensão de figurar no Oscar, o filme seria um destes melodramas que passam na televisão em um horário que ninguém se importa e serviria apenas para passar o tempo. No entanto, duando termina, você pensa qual é o sentido de tudo aquilo, se tudo era sobre J.D aluno de Yale (vivido por Gabriel Basso) ter que escolher entre ficar com a mãe ou ir para uma entrevista de estágio. Claro que existe uma história muito mais complexa por trás de tudo isso, mas que é apresentada de forma muito equivocada, sobretudo por utilizar os estereótipos carregados deste grupo de pessoas. Ron Howard peca ao tentar contar uma história emocionante sem se dar conta de fornecer ao expectador um contexto para o que se vê. O resultado é um distanciamento quase inevitável daquelas pessoas e uma história que não se desenvolve, apenas gira em torno de si mesmo. 

Haley e Gabriel: irmãos de uma realidade complicada. 

Era Uma Vez um Sonho (Hillbilly Elegy / EUA -2020) de Ron Howard com Amy Adams, Glenn Close, Gabriel Basso, Haley Bennett, Owen Asztalos e Freida Pinto. 

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