Na Florence Green (Emily Mortimer) é apaixonada por literatura e esta paixão se mistura bastante com as lembranças que possui do esposo falecido. Disposta a recomeçar a vida, ela tem a ideia de se mudar e abrir uma livraria numa cidade do litoral inglês, a pequena Hardborough. Até então nunca houve uma loja destas por lá. Ela escolhe uma casa antiga que estava fechada há tempos e investe todas as suas economias no empreendimento. Ambientado nos anos 1950, a loja começa a chamar atenção dos leitores da região, mas também incomoda algumas pessoas, sobretudo Violet Gamar (Patricia Clarkson) que passa a desejar construir um centro de artes naquela casa abandonada. Rica e influente politicamente, começa a existir uma briga de ego de Violet com Florence, o que não deixa a simpática viúva sossegada um dia sequer. De constantes ameças de perder seu empreendimento a pequenos golpes cotidianos o filme A Livraria se desenvolve sem tropeços. Adaptado do livro da inglesa Penelope Fitzgerald, a trama lida com os conflitos da arte com uma sociedade conservadora que prima pela mesmice (tanto que recebem destaque a chegada nas prateleiras de Lolita de Vladimir Nobokov e Fahrenheit 451 Ray Bradbury) mas o filme prefere deixar este conflito tão atual nas entrelinhas. Sabe se lá o motivo a diretora catalã Isabel Coixet resolveu fazer o filme como se fosse um drama de época inglês açucarado. A sorte é que além da bonita fotografia ela escalou um elenco dos bons, que além das duas atrizes ainda inclui Bill Nighy (como um solitário rico e excêntrico apaixonado por livros) e a menina Honor Kneafsey (que interpreta a esperta ajudante de Florence) que ajudam a simpatizar com a narrativa. Coixet que é uma diretora sem medo de usar cores fortes em seus filmes demonstra aqui que consegue fazer um longa de linguagem clássica e sem firulas, como se estivesse disfarçada de um diretor inglês comportado, no entanto, com um tema destes, a diretora poderia ter feito algo mais denso (assim como vimos em Fatal/2008, que ainda considero sua obra-prima - ainda lembro do meu cunhado chorando com aquele desfecho). No entanto, não deixa de ser divertido ver esta pequena crônica de costumes após a diretora fazer o pesadão Ninguém Deseja a Noite (2015). A versatilidade da diretora lhe valeu os prêmios de melhor filme, direção e melhor roteiro adaptado na edição 2018 dos prêmios Goya - que conferiu outras nove indicações a este filme agradável a que se assiste sem o menor esforço. Ao menos ela teve o reconhecimento que merecia faz tempo, mas deixa aquela sensação do ótimo cineasta que faz um filme bonitinho para levar o Oscar para casa, no caso dela, o primo espanhol, o Goya.
A Livraria (The Bookshop / Reino Unido - Alemanha - Espanha - França / 2017) de Isabel Coixet com Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Bill Nighy, James Lance, Hunter Tremayne, Honor Kneafsey, e Michael Fitzgerald. ☻☻☻
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