Rosamund e Crhis: premiado casal em terapia. |
Mediante a crise estabelecida após uma traição, um casal resolve consultar uma terapeuta para ver se coloca o casamento novamente nos eixos, ou, pelo menos, alinhar os sentimentos que sentem um pelo outro. A ideia simples fica mais interessante quando se descobre que a grande parte do filme é dedicada às conversas que o casal realiza fora do consultório, na mesa de um pub enquanto aguarda o horário marcado do atendimento. São naquelas conversas um tanto despretensiosas que conhecemos um pouco mais da vida conjunta de Tom (Chris O'Dowd) e Louise (Rosamund Pike), afinal foram quinze anos vivendo debaixo do mesmo teto, os últimos ao lado dos filhos frutos desta união. Concebido para ser uma série realizada pela BBC de Londres, escrita por Nick Hornby e dirigida por Stephen Frears, a série desfruta de diálogos ágeis, cortantes e bastante robustos nos arcos que propõe dentro de cada episódio. O roteiro é defendido com bastante desenvoltura pelo casal de atores, que sabem explorar o que existe de cômico e dramático naquela situação, o amor que ainda sentem um pelo outro, os ressentimentos acumulados por tanto tempo, alguns constrangimentos e de vez em quando soltam aquelas situações incômodas sobre a vida a dois do qual o outro nunca imaginava ser tão lamentáveis. A graça da narrativa é acompanhar a recorte semanal as pequenas mudanças que acontecem naquele casal, especialmente relacionada à percepção que possui de si mesmo (e desenvolver no espectador uma torcida contra ou a favor do resgate do casamento). Enquanto narrativa, cabe criar pequenas mudanças na estrutura do bate-papo (seja a presença de uma terceira pessoa, um acidente, uma briga sobre política, uma mudança no visual). Hornby e Frears já trabalharam juntos no cult Alta Fidelidade (2000) e Rosamund e Chris já trabalharam com o texto do escritor no celebrado (ela em Educação/2010 e ele em Juliet Nua e Crua/2018), o que só colabora para a desenvoltura de uma produção que depende muito da eficiência dos diálogos. No entanto, ao ser concebido como uma série ágil de dez episódios de dez minutos, a produção funciona muito bem (e o piloto lhe garantiu três Emmys: melhor curta, melhor ator e melhor atriz em curta), com todos os capítulos agrupados em formato de um filme de pouco mais de uma hora e quarenta minutos, a ideia pode ficar um tanto cansativa para o espectador assistindo dois atores dialogando quase sempre no mesmo cenário (e deixa a impressão que é uma peça adaptada para o cinema). A sorte é que se o formato mudou, os diálogos permanecem interessantes sobre a vida agridoce de um casamento.
Estado de União (State of the Union / Reino Unido - 2019) de Stephen Frears com Rosamund Pike, Chris O'Dowd, Janet Amsden, Jeff Rawle, Laura Cubitt e Elliot Levey. ☻☻☻
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