Devin France: releitura de Peter Pan.
Perdi a conta de quantos filmes levaram para as telas a clássica história de Peter Pan, uma querendo ser mais moderna que a outra (as minhas favoritas ainda são o desenho da Disney e a versão de PJ Hogan lançada em 2003). Pelo menos esta versão do americano Benh Zeitlin procura um caminho diferente para contar a história ao conta-la a partir do olhar de uma Wendy contemporânea. Não bastasse isso, ainda constrói uma versão realista para a história sobre o menino que não envelhece e os seus seguidores perdidos. A Wendy (Devin France) aqui é uma menina de luminosos olhos azuis, que ajuda a família num restaurante perto da linha de trem de uma cidadezinha esquecida no mapa. Ela e os irmãos acabam embarcando em uma aventura meio que por acaso ao seguirem um menino (Yashua Mack) que vive em uma ilha junto a um grupo de garotos que rejeitam envelhecer. O que poderia ser uma aventura curiosa para o público infanto-juvenil, logo se torna um problema nas mãos de um diretor que não sabe dosar o que a história pode ter de assustadora. Se os dilemas da história de Peter Pan estão ali, como estar longe de casa, viver sem os pais e o medo dos adultos que estão por perto (antes eram piratas, aqui são idosos), além do destemor exagerado do personagem criado por JM Barrie, a coisa complica quando você precisa lidar com cenas de morte e mutilação de crianças, mesmo que estes momentos traumáticos sirvam para construir o vilão clássico da história. Não resta dúvida de que Zeitlin é bastante criativo em seu olhar sobre a história, ao não saber manter o foco no público infantil ou adulto, o filme alcança um resultado bastante irregular, que surpreende ao ofuscar a poesia da história com tom pesado que a trama recebe, também existem cenas soltas e visivelmente improvisadas que poderiam ter ficado de fora da montagem final. A obra faz lembrar muito a estética do filme anterior de Zeitlin, Indomável Sonhadora/2012 com cenários que parecem feitos de sucata, roupas gastas, um monstro feito no capricho e cenas que parecem de teatro mambembe. Se no seu trabalho anterior (que foi indicado a quatro Oscars, incluindo melhor filme e direção) o resultado trazia um frescor ao voltar a lente para uma comunidade de desassistidos, agora parece apenas um reaproveitamento do que já vimos antes em uma história conhecida e repaginada. Ele até insere alguns elementos de fantasia que dão o maior jeito de brincadeira de criança a algumas cenas, mas diante das possibilidades que o filme tinha, ele resulta menor do que as ambições. Zeitlin parece trabalhar em uma espécie de zona de conforto e foi ainda mais prejudicado pelo lançamento pouco antes da pandemia. Ao menos o cineasta comprova ser realmente bom em conduzir a atuação das crianças, se pelo filme anterior fez a pequena Quvenzhané Wallis se tornar a mais jovem indicada na história do Oscar, a menina Devin France que interpreta Wendy não deve aparecer nas premiações, mas promete ter uma carreira promissora.
Wendy (EUA-2020) de Benh Zeitlin com Devin France, Yashua Mack, Gage Naquin, Gavin Naquin, Ahmad Cage, Pamela Harper e Kevin Pugh. ☻☻
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