segunda-feira, 16 de novembro de 2020

PL►Y: Rosa e Momo

 
Ibrahima e Sophia: material demais em filme de menos. 

A italiana Sophia Loren é uma verdadeira lenda vida do cinema. Nascida em 1934, nos anos 1950 se tornou um dos maiores nomes do cinema de seu país, ao ponto de fazer mais de quarenta filmes só naquela década (só em 1954 ela participou de inacreditáveis onze produções). Seu talento gerou um reconhecimento mundial e a tornou a primeira atriz a levar para casa o Oscar de melhor atriz por uma produção em língua estrangeira (por Duas Mulheres/1960). Sophia voltaria a ser indicada ao Oscar por Matrimônio à Italiana/1964 e ganhou um Oscar honorário em 1991 (mas bem que merecia outra estatueta por Um dia Muito Especial/1977). O último trabalho que muita gente lembra de Sophia foi no fiasco Nine/2009, mas depois ela ainda realizou um filme para a TV em 2010 e um curta quatro anos depois. Foram seis anos longe das telas até que seu filho, Edoardo Monti convencê-la a participar desta nova adaptação do livro A Vida Pela Frente de Romain Gary. A obra já recebeu uma celebrada adaptação com Madame Rosa (1977) de Moshé Mizrahi estrelada por Simone Signoret, longa que recebeu o Oscar de filme estrangeiro daquele ano. Assim, a tarefa de Monti se torna um tantinho mais complicada, já que precisa fazer alterações consideráveis em sua protagonista para que comporte Sophia no alto dos créditos e se distancie da versão anterior. Uma grande mudança é a idade de Rosa, que é uma sobrevivente dos campos de concentração e sua idade nos dias atuais é bem mais avançada do que no filmes dos anos 1970 (Signoret tinha 56 anos ao viver a personagem, Sophia tem 86) isso muda muito a interação da personagem com o mundo ao seu redor. Além de sobreviver a Auschwitz, Rosa é uma ex-prostituta que cuida de filhos de garotas de programa e embora se considere cheia de energia, ela requer cada vez mais cuidados. É o seu médico, Dr. Coen (Renato Carpentieri) que acaba pedindo que ela cuide  do menino Momo (Ibrahima Gueye) após um encontro pouco simpático  com o guri nas ruas italianas. Primeiro ela rejeita a ideia, mas acaba cedendo ao apelo do amigo e desenvolvendo um laço afetivo com o menino (que sem pai ou mãe, ganha a vida vendendo drogas nas ruas). Existem muitos elementos a serem trabalhados nos filmes: preconceitos, negligência, marginalidade, transexualidade, holocausto, drogas, prostituição, mas o filme se desvia de se aprofundar qualquer um deles, privilegiando a amizade que nasce entre aquela mulher experiente e o menino que cruza o seu caminho. A experiência de Sophia faz toda a diferença no papel e o menino Ibrahima é bastante esforçado (tendo uma cena no hospital que é inevitável aquele nó na garganta), mas o filme poderia ser um tantinho mais atento aos temas que aparecem em sua história. Concebido para ser um melodrama (sem nenhum problema com isso), o filme entrega metade do que promete e funciona principalmente pelo empenho de seu elenco . Distribuído pela Netflix, toda a propaganda do filme é centrada no retorno da diva italiana e numa ideia de que poderia até ser indicada ao Oscar pelo seu desempenho. Considero que a produção não tem fôlego para tanto, mas veremos o que acontece. 

Rosa e Momo (La vita davanti a sé / Itália - 2020) de Edoardo Monti com Sophia Loren, Ibrahima Gueye, Renato Carpentieri, Babak Karimi, Abril Zamora e Massimiliano Rossi. 

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