Terese e seu desejo: o paraíso visto nos outros.
Está em cartaz na MUBI a trilogia Paradise do diretor Ulrich Seidl, elogiada em festivais a obra lança um olhar no mínimo curioso sobre o que o senso comum pode imaginar que possa ser o paraíso. Com pontos de partidas simples, roteiros radicais e tempero ácido, Seidl nos brinda com obras que são provocações bastante instigantes. Eu pensei em assistir os três longas e escrever tudo em uma tacada só, mas acho que postar sobre separadamente daria mais destaque para o que as obras apresentam. O primeiro capítulo da trilogia é Paradise: Love (ou Paraíso: Amor) que é ambientado num litoral idílico, com muito sol, mar e praia, um verdadeiro paraíso (valorizado ainda mais pela fotografia) para aqueles que procuram uma realidade ensolarada após meses no gélido hemisfério norte. É neste ambiente que a austríaca Teresa (Margarete Tiesel) foi passar as férias distante de sua filha adolescente. O filme não perde tempo explicando como anda a vida amorosa de sua protagonista, mas aquela senhora que ganhou peso no decorrer dos anos e não demonstra medo em assumir que tem uns cinquenta anos, parte para novas praias disposta a encontrar o que falta em sua vida trivial. Acontece que o local escolhido para passar as férias é no Quênia, onde fora do resort voltado para turistas com dinheiro disponível para se divertir, existe uma realidade social bem vulnerável. Seidl não hesita em exibir os contrastes, dos turistas caucasianos torrando no sol, aos habitantes da região que os observa com a intenção de ganhar algum dinheiro extra, seja vendendo colares, souvenirs ou até o próprio corpo, existe um abismo social entre seus personagens. Existe ali uma divisória visível, antes mesmo que ela seja demonstrada nas ações de seus personagens. Teresa não apenas percebe que pode satisfazer seu desejo sexual com os rapazes da região como estes também percebem que seduzi-la é a porta de entrada para o dinheiro que falta para bancar as despesas. Começam então as desventuras de Teresa em busca de sexo, depois para algo a mais, o amor que dá nome ao título. Mas esta "sugar mama" logo descobrirá que o amor de seus escolhidos é mais ampliado do que ela imagina. Com cenas que parecem improvisadas, Seidl cria uma narrativa em tom de crônica que pode provocar risadas nervosas pela condição humana de seus personagens, seja de sua protagonista que é capaz de acreditar que encontrará o amor pagando por ele ou de seus jovens parceiros que em alguns casos são capazes de se sujeitarem à objetificação mais descarada. Para quem tem problemas com nudez é bom manter distância de Paradise: Love, aqui ela aparece de forma bastante natural tal e como se fossem Adão e Eva procurando o paraíso, esse despudor se aplica também à atriz Margarete Tiesel que parece muito a vontade em exibir seu corpo fora dos padrões. Obviamente que para coroar o desfecho, surge umas uma das cenas mais repletas de erotismo e canastrice do cinema envolvendo Teresa, suas amigas e um rapaz digamos... capaz de tudo para ganhar uma grana. Obviamente que o final melancólico deixará aquele sabor de que Teresa precisa perceber que o amor está em um lugar bem diferente do que ela imagina.
Paradise: Love (Paradies: Liebe / 2012 - Áustria, Alemanha, França / 2012) de Ulrich Seidl com Margarete Tiesel, Peter Kazungu, Inge Maux, Helen Brugat, Gabriel Mwarua, Josphat Hamisi, Tobias Kasiwa e Carlos Mkutano. ☻☻☻
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