segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CATÁLOGO: Amor à Queima Roupa

Patricia e Slater: os desafios do amor segundo Tarantino.

Com o falecimento do diretor Tony Scott há uma semana eu senti a necessidade de homenageá-lo postando  sobre meu filme favorito assinado por ele. Amor à Queima Roupa é um filme que nasce de um dos argumentos mais manjados da história do romance cinematográfico:  o rapaz que se apaixona por uma prostituta de bom coração. O que faz a diferença aqui é quem assina o roteiro: Quentin Tarantino. O diretor era um ilustre desconhecido que havia realizado algumas pontas em filmes independentes, este era o seu primeiro a ser vendido (depois de bater de porta em porta) para ser levado às telas por Tony Scott. O irmão de Ridley Scott parecia enclausurado a um tipo de cinema calcado em cenas de ação e suspense, mas aqui ele mostrou que sabia dominar o romantismo na medida certa para que a plateia torcesse de início ao fim pelo casal principal.    Existe uma química irresistível entre Christian Slater no papel de  Clarence e Patricia Arquette como Alabama. Clarence é um pacato funcionário de uma loja de animais que conhece no cinema (onde mais poderia ser?) uma garota encantadora vinda do interior. Todas as afinidades que possuem (o gosto por HQs de super-heróis, batatas fritas, kung fu....) só podem dizer uma coisa: são almas gêmeas! E como o amor é lindo ela não tem motivo para continuar enganando o rapaz - e conta para ele que é uma garota de programa contratada para animar a noite de aniversário dele. Eles acabam se casando e... Clarence terá de enfrentar Drexl (Gary Oldman), o cafetão da loura que não está disposto a perder a funcionária. É neste momento tenso que o filme dá sinal de que não é um romance qualquer, afinal, nenhum casal pode ser personagem de Tarantino impunemente! A conversa com o tal Drexl virá um banho de sangue e o casal termina com uma mala cheia de cocaína. Ciente de que precisam de dinheiro para bancar a vida a dois, Clarence vê ali a chance de ganhar uma grana indo para Hollywood e vendendo o pó para algum viciado endinheirado. Pena que depois que a violência aparece no caminho dos pombinhos ela se alastra pela trama por conta de um grupo de traficantes que passa a perseguí-los. Quem acompanha o cinema de Tarantino irá perceber trocentas ideias que apareceram novamente em sua obra (a mala de dinheiro, os tiroteios inusitados, as citações cinematográficas intermináveis, as filosofices sobre cultura pop, o humor inconfundível...) e, além de ver um bom filme, a sensação é que vemos o nascimento de um sujeito que revolucionaria Hollywood. Penso que Tony Scott tem crédito nisso, pois soube valorizar o texto que caiu em suas mãos (e custou míseros 50 mil dólares), ao ponto de notar que a narrativa linear seria melhor para a plateia se identificar com os casal protagonista. Acho louvável a atuação de Christian Slater como Clarence, que transborda paixão por sua parceira em cena. Patricia Arquette está esplêndida como Alabama, linda, frágil e sexy é dela a antológica cena da personagem  ajoelhada diante do assassino em sua última chance de sobreviver (ela merecia uma indicação ao Oscar só pela cena). Além do inspirado casal principal, o filme traz um controlado Dennis Hooper como pai de Clarence, um ensebado Brad Pitt como um viciado que está alheio a tudo o que acontece e Christopher Walken como um mafioso. Do início romântico ao seu clímax angustiante num hotel de luxo, Amor à Queima Roupa garantiu seu sucesso nas bilheterias - e o mais legal é que a plateia nem sabia que via uma espécie de revolução no cinema de Hollywood há quase vinte anos (graças ao cérebro  de liquidificador hiperativo de Quentin Tarantino). Tony Scott nem devia saber que escrevia sua maior colaboração na história do cinema. 

Amor à Queima Roupa (True Romance/EUA-1993) de Tony Scott com Christian Slater, Patricia Arquette, Dennis Hooper, Christopher Walken, Brad Pitt, Gary Oldman e Elliot Blitzer. 

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