Luísa e Lázaro: uma noite movimentada.
O diretor Thadeu Jungle ficou famoso pelos seus videos e era de se esperar em sua estreia cinematográfica a mesma preocupação com o visual de suas obras anteriores. De fato, Amanhã Nunca Mais acerta em tudo o que é técnico: a fotografia em luminosidade perfeita, a edição ágil e o cuidado com a trilha sonora capitaneada por Arnaldo Antunes, faltou apenas caprichar na história. Até contar o dia mais turbulento na vida do pacato anestesista Walter (Lázaro Ramos), o filme exercita a paciência do espectador com cenas um tanto despropositadas. A primeira cena reproduz uma corrida pelas ruas de São Paulo para logo depois mostrar o tédio do trânsito parado da grande metrópole. Não satisfeito, o diretor investe num dia na praia com a família do personagem, conhecemos sua bela esposa Solange (Fernanda Machado), sua filha e a sogra (Vic Militello) que é apresentada por uma vinheta esquisita que parece debochar os que estão acima do peso. O dia na praia está ali só para apresentar a família numa abordagem que se revela aos poucos sob a ótica de uma traição eminente. Walter não reage. Se passa quase meia hora de filme até que sejamos apresentados à história em si. Durante um plantão, Walter assume o compromisso de buscar o bolo de aniversário de sua filha e para isso assume o risco de burlar as regras do hospital com a ajuda do amigo Geraldo (Milhem Cortaz). Este é o ponto de partida para uma noite cheia de problemas. Enquanto rola a festinha da Juju, o pai precisa enfrentar o trânsito de São Paulo para buscar o tal bolo do outro lado da cidade, mas ele irá perceber que o engarrafamento é o menor de seus problemas. Entre atropelamentos, caronas, falta de combustível, encontro com um uma ninfeta e uma admiradora das antigas, tudo colabora para a tarefa desse desastrado Hércules urbano ficar cada vez mais árdua. Não é difícil perceber que a inspiração do filme é o clássico Depois de Horas (1985) de Martin Scorsese, afinal estão ali as ruas escuras, os tipos estranhos e as situações que caminham para um pesadelo exagerado - mas precisava criar situações que por si só já parecem clichês? A curta duração do filme também não ajuda no aproveitamento das situações mais interessantes que aparecem pelo caminho. A casa da boleira é um achado com seus gatos espalhados (um deles sendo a encarnação do espírito do falecido marido dela) e o papo dúbio com uma ninfeta, mas aparece tão pouco que não conseguimos sentir mais do que estranhamento. A coisa poderia ficar mais esquisita quando ele encontra uma conhecida carente (Maria Luisa Mendonça em mais uma mulher descontrolada que sabe dominar tão bem), mas a coisa descamba fácil para uma comédia histérica. Ao final do filme, Walter precisa tomar uma decisão para mudar o ritmo dos seus dias e isso deve justificar o título. Com bom elenco e visual estiloso o roteiro poderia ter caprichado mais nas situações enfrentadas pelo seu "herói" expert em tomar decisões erradas - mesmo as simbologias do roteiro parecem óbvias (o anestesista anestesiado, o médico que omite socorro...), do jeito como foi feito, a sensação é que já vimos tudo isso dezenas de vezes.
Amanhã Nunca Mais (Brasil/2011) de Tadeu Jungle com Lázaro Ramos, Fernanda Machado, Maria Luisa Mendonça, Milhem Cortaz, Imara Reis, Luis Miranda e Vic Militello. ☻☻
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