Kidman: rumo ao estrelado na caixa de luz.
Nicole Kidman teve a sua primeira indicação ao Oscar pelo papel de Satine no musical Moulin Rouge/2000 mas ela merecia uma indicação desde que viveu a tresloucada Suzanne Stone em Um Sonho Sem Limites, filme cruelmente cômico de Gus Van Sant. Pelo papel, Kidman ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia. Na época a loura ainda era mais conhecida como senhora Tom Cruise e houve quem notasse um bocado de auto-referência na história da garota do tempo que se torna após se livrar do marido. Suzanne é uma dessas loucas pela fama que fazem qualquer coisa para alcançarem os holofotes. Toda a sua vida parece ter sido organizada para isso, o jeito de andar, se vestir e de falar (aparentando saber mais do que realmente consegue entender) faz de Suzanne uma mulher de encher os olhos, mas superficial e louca de pedra. Contado como se fosse um documentário (narrado pela própria Suzanne) conhecemos a sua história, a infância, sua paixão pelo pai, seu namoro com o boa gente Larry Moretto (Matt Dillon em mais uma boa parceria com o diretor), o casamento e, principalmente, o dia em que consegue o emprego numa rede local (e se comporta como se houvesse alcançado o posto de dona da Rede Globo). É impossível não achar graça das centenas de ideias que a moça apresenta para o seu diretor todos os dias até que ele aceita uma delas (mais para ela sossegar do que por interesse): fazer um documentário sobre três jovens locais sem muita perspectiva de vida. Não menos hilário é o contato de Suzanne com esse três adolescentes desbocados que aceitam a empreitada por todos os motivos possíveis, menos ajudar Suzanne em sua tarefa antropológica. Um dos garotos é o projeto de marginal Russel (Casey Affleck), o outro é o carente Jimmy (Joaquin Phoenix, excelente) e a tímida Lydia (Alisson Folland). O roteiro de Buck Henry capricha ao transpor o olhar mordaz do livro de Joyce Maynard para a telona (inclusive nos momentos mais simples, como em que Lydia confessa já ter aparecido na TV... no dia em que passou em frente à câmera de uma loja de eletrodomésticos). Stone poderia passar o resto de sua vida gravando o que esses jovens (não) tem a dizer, mas ela percebe que sua vida não consegue progredir porque seu esposo é uma espécie de atraso de vida. Larry Moretto é um bom sujeito, mas sem grandes ambições (algo imperdoável para sua esposa) - piora ainda mais a situação quando ele demonstra a vontade de ser pai e ela considera engravidar algo nojento. Basta Stone perceber que Jimmy está apaixonado por ela para que consiga convencê-lo de fazer o trabalho sujo. O gosto pela fama irá levá-la além do bom senso - ao ponto de colocar a melosa All by Myself para tocar no funeral. Os desdobramentos do roteiro beiram o inacreditável e Nicole já demonstrava que conseguia construir um personagem complexo, cheio de nuances, tão sedutor quanto monstruoso. Espécie de sociopata, Suzanne vive por uma lógica maluca de que todo mundo precisa aparecer na TV - e somente assim poderão ser pessoas melhores. Se aproveitando das pessoas que cruzam seu caminho ela consegue convencer até como sofredora, menos a cunhada (vivida por Ileana Douglas) - que por fim recebe umas das cenas de patinação mais vingativas da história do cinema. Magnificamente orquestrado To Die For é o meu filme favorito de Gus Van Sant e já deixava claro que Nicole estava prestes a dar uma guinada em sua carreira (bastava se livrar do marido).
Um Sonho Sem Limites (To die For/EUA-1995) de Gus Van Sant com Nicole Kidman, Matt Dillon, Joaquin Phoenix, Illeana Douglas, Casey Affleck e Alisson Folland. ☻☻☻☻☻
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