Os primos: poderes, hormônios e complexos.
Eu ainda fico desconfiado quando me deparo com um filme de ficção que se aventura pelo formato "documental". Me incomoda bastante a câmera que insiste em ficar tremendo e sempre prometo que nunca mais verei um filme nesse estilo. Ainda assim, fiquei curioso com esse Poder Sem Limites desde que assisti ao trailer. O ponto de partida pode até ser manjado: três amigos descobrem uma cratera com um estranho objeto que lhes confere poderes especiais. A partir daí, aprenderam aquela lição que o Homem-Aranha se repetia: "grandes poderes exigem grandes responsabilidades". Vale ressaltar outro aspecto que me incomoda nesse tipo de filme: o roteiro. Na grande maioria deles, o formato "câmera na mão" em cenas "espontâneas" acabam evidenciando o quanto os roteiristas tem dificuldade em escrever um bom texto, deixando os fatos soltos na trama - e isso acontece até a metade do filme. Quando os três amigos descobrem que desenvolveram poderes dignos do professor Xavier, ao ponto de levitarem e criarem campos de força, o que lhes resta é fazer um bando de idiotices até que a trama realmente mostre a que veio. A trama em si gira em torno dos dramas de Andrew (Dane DeHaan), um sujeito sem amigos e tímido que por acaso vai à uma rave com o primo, Matt (Alex Russell) e junto com Steve (Michael B. Jordan) fará a tal descoberta misteriosa. Nem precisa de muito esforço para ver que Andrew terá dificuldades de lidar com seus complexos e administrar seus poderes. Esse desequilíbrio emocional fica ainda mais marcada pelo relacionamento tempestuoso com o pai agressivo e com a mãe doente. Para desespero de seus amigos, digamos que Andrew se aproxima cada vez mais do lado sombrio da força - e o sentimento de isolamento e desejo de vingança começam a crescer de forma incontrolável (ao ponto de tirar a vida de algumas pessoas pelo caminho). Apesar da ideia darwinista superficial, é quando Andrew se torna o vilão que o filme se torna mais interessante - até então o que segurava a trama eram os efeitos especiais impressionantes para uma produção de míseros doze milhões de dólares. Rumo ao final, os efeitos especiais tornam-se cada vez mais espetaculares (o que garantiu ao filme render mais de dez vezes o seu valor nas bilheterias), ainda assim, eles não conseguem disfarçar alguns pontos que o roteiro prefere fingir não atrapalhar. Um deles é a tentativa cada vez mais forçada de criar uma tensão sexual entre os dois primos (que começa com piadinhas e depois com ciuminhos... da forma como aparece a coisa não serve muito à história) e, este sim um problema sério, tornar seu formato numa camisa de força. Chega a incomodar a tentativa do diretor justificar que durante toda a trama existe uma câmera presente para filmar tudo. Seja por parte de Andrew, da namorada de seu primo (que divulga tudo na internet), câmeras de hospital e frases como "a câmera precisa ficar ligada para investigação" mostram que o que deveria ser inventivo, acaba se tornando uma amarra. O diretor Josh Trank consegue imprimir tanta energia no ápice do texto de Max Landis que o espectador está tão interessado no desfecho que não se preocupa em como aquelas imagens "reais" foram parar ali (afinal de contas, todo mundo sabe que o filme é de ficção). Com a gentileza de não tremer muito a câmera - e deixar promessas para uma provável continuação - espero que o próximo consiga fugir dessas kryptonitas narrativas.
Poder Sem Limites (Chronicle/EUA-2012) de Josh Trank com Dane DeHaan, Alex Russell, Michael B. Jordan, Michael Kelly e Anna Wood. ☻☻☻
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