Charlotte: a alma gêmea numa figueira.
Filha dos icônicos Jane Birkin e Serge Gainsbourg, a cantora e atriz Charlotte Gainsbourg criou uma carreira própria ancorada especialmente em filmes sérios. Apesar das décadas de carreira (estreou em 1984), sua fama aumentou consideravelmente quando estrelou o polêmico O Anticristo (2009) de Lars Von Trier, filme pelo qual recebeu o prêmio em Cannes de Melhor Atriz. De brinde, Charlotte se tornou a atriz favorita do diretor, especialmente por ser a única a repetir a parceria com Trier (que tem fama de ser um torturador psicológico para suas estrelas). Além de ter aparecido em Melancolia (2011) e estar escalada para (o já polêmico) novo filme do cineasta (A Ninfomaníaca), a francesa prova que pode fazer papéis mais leves como neste A Árvore uma espécie de fábula pela metade. Escolhido para encerrar o Festival de Cannes/2010 O filme conta a história de uma família nos cafundós da Austrália que sofre com a morte do patriarca. Com a morte dele resta à viúva Dawn (Gainsbourg) colocar ordem na casa e nas relações com seus quatro filhos. Poderia ser só mais um drama familiar se a única filha do clã, Simone (a promissora Morgana Davies) não acreditasse que a alma de seu pai está na gigantesca figueira ao lado da casa. A menina passa horas conversando com a árvore e conta o segredo para a mãe que aceita aquela situação como forma da garota superar a perda recente. A coisa poderia ser graciosa se a vida não tivesse que seguir seu rumo e Dawn não arranjasse um emprego e se apaixonasse pelo patrão - para a ira da menina e... da árvore! É até interessante como a diretora faz a árvore interagir com aquela família e expressar seu desagrado com a situação derrubando uma parede, fazendo com que os desafetos tropecem em suas raízes ou até mesmo prejudicando a estrutura da casa. No entanto, a diretora perde cada vez mais o ânimo perante o aspecto fantástico da história. O resultado soa arrastado e bem menos inventivo do que deveria - e a inércia da matriarca prejudica um bocado a identificação do espectador com aquela situação. Baseado no livro "Nosso pai que está na árvore" da escritora Judy Pascoe, o filme poderia ser genial se mergulhasse na fantasia que o livro propõe, mas, ao invés disso, resolve transformar a menina que era uma gracinha em uma mimada intransigente, enquanto a mãe começa a questionar se deve continuar a viver ou se render àquela fantasia maluca de ter a alma do esposo presente ao lado da casa. Enquanto o cotidiano tenta encontrar seu rumo para a vida continuar seu ciclo (exemplo disso é o primogênito que passa a trabalhar, o segundo filho que ajuda nos afazeres domésticos...), as mulheres da casa parecem receosas de seguir em frente - assim como a diretora em cumprir o que prometia e radicalizar seus simbolismos. Depois de patinar por longos minutos, as coisas melhoram com a cena do furacão que cumpre a função de concluir a trama com o último golpe do papai figueira. Penso o que M. Night Shyamalan teria feito com uma premissa dessas.
A Árvore (The Tree/L'Arbre - França/Austrália -2010) de Julie Betuccelli com Charlotte Gainsbourg, Morgana Davies, Marton Csokas, Christian Byers e Tom Russell. ☻☻
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