Jovens atores: emoções reais na busca pela identidade.
Considero muito interessantes os filmes que procuram explorar o processo de construção de um artista, tanto faz se são os escritores de As Horas (2002) ou a bailarina de Cisne Negro (2010), por isso que assisti ao chileno Drama de Matias Lira. que chamou atenção desde que o roteiro foi premiado com verba de financimento no Festival de Havana. A premissa é das mais interessantes: um grupo de estudantes de teatro são motivados pelo professor a utilizar o método do teórico francês Antonin Artaud (ou método Artaudiano) que busca emoções reais para serem levadas ao palco - o que muitas vezes desperta sensações obscuras em seus adeptos. O método serve de pretexto para que os jovens experimentem situações perigosas nas ruas sem a segurança da atuação sobre o palco. O foco do filme está em três amigos, o andrógino Mateo (Eusebio Arenas), sua namorada Maria (Isidora Urrejola) e o amigo Ángel (Diego Ruiz) que está descobrindo sua homossexualidade. O que poderia originar um triângulo amoroso serve de ponto de partida para uma história que agrega outros elementos, como a construção da identidade dos personagens e o efeito da ditadura chilena sobre as artes. Não é um filme para todos os gostos. Diante do método, todos os sentimentos estão ali para a desconstrução desses atores descontrolados. Assim, a cumplicidade existente entre o casal se dilui na busca pelos limites de cada um - e a confiança entre os amigos segue pelo mesmo caminho. Se Mateo se ressente de sempre ser criticado de não atribuir emoções aos personagens, Maria e Angel começam a explorar a sexualidade interpretando a prostituição nas ruas. Já me parece um clichê essa mania de colocar atores sempre caindo no submundo (exploração sexual, tráfico de drogas...) para explorar suas emoções, mas no roteiro esse fato aparece claramente como uma desculpa ponto de partida para que os personagens descubram a si mesmos. Se Maria parece até casta com seu namorado, ela irá liberar suas fantasias... se Ángel está apaixonado por seu amigo, até o final irá perceber o quanto a imaturidade do amado é desinteressante. Mas o fio condutor da trama é a história de Mateo, que tem o passado mostrado em flashes durante uma montagem de Romeu e Julieta que o aflige até hoje. Parece estar ali a resposta para todos os seus problemas, suas limitações como ator, amante e até como filho. É até interessante como Arenas consegue subverter sua imagem angelical abraçando tudo que seu personagem tem de desagradável, mas aturar um protagonista petulante, agressivo e manipulador não é fácil, ainda mais com a atmosfera de pesadelo que o diretor utiliza em vários momentos (principalmente nas esquetes, especialmente na releitura mais sombria da história de Shakespeare). Por descascar a profissão de atuar de todo glamour e vesti-la de angústia o filme tem seus méritos, mas peca pelo prazer de chocar o público com polêmicas desnecessárias (como o esquete dos amigos sobre um padre traficante assediado por uma prostituta e um fiel gay) ou ainda jogar fora um bem tratado erotismo com as cenas de Ángel no carro com um "cliente" ou o sexo de Mateo com Julieta nos bastidores (apesar de Freud explicar isso muito bem). Infelizmente o roteiro não está à altura das boas ideias que apresenta. No fim das contas, entre tantas traições (aos outros e a si mesmo), Mateo reencontra a sua história e se dá conta de que só seus sentimentos por Maria podem salvá-lo. A partir daí... o filme termina com uma cena forte e instigante, que mistura a realidade do personagem com a fantasia não encontrada nos palcos, mas na própria rua.
Drama (Chile/2010) de Matias Lira com Eusebio Arenas, Isidora Urrejola, Diego Ruiz, Jaime McManus e Eduardo Pacheco. ☻☻
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