Andrea e James: ela é a melhor coisa do filme.
É até covardia comparar W.E. com o filme anterior de Madonna (Sujos e Sábios/2008). Se o primeiro era um indie underground, W.E. é infinitamente mais ambicioso. Os figurinos (de Arianne Phillips que ganhou o prêmio do sindicato da categoria e foi indicada ao Oscar), a direção de arte e a trilha sonora (que foi indicada ao Globo de Ouro de melhor trilha sonora por sua refinada sonoridade com elementos de percussão) são impecáveis. O capricho nesses quesitos podem ser vistos como um avanço da diretora Madonna com relação à forma de seu cinema. Agora, ela só precisa se preocupar com o conteúdo. Apesar de basear-se no polêmico romance de Wallis Simpson com o príncipe Edward, falta substância na forma como a história é contada. O oscarizado O Discurso do Rei/2010 até dedica alguns minutos à história, já que é a renúncia de Edward VIII à coroa britânica (em nome de seu amor pela americana duplamente divorciada) o estopim para o reinado do gago Albert. Apesar de todo o cuidado com os planos e enquadramentos, falta densidade ao roteiro escrito pela loura e seu amigo Alek Keshishian. Colabora para o efeito desengonçado os dois núcleos que compõem a trama. Se a mutante Andrea Riseborough (que aprendi a admirar desde que assisti à O Pior dos Pecados/) enche os olhos da plateia na pele de Wallis Simpson, o mesmo não se pode dizer de Abbie Cornish na pele de uma admiradora desta figura histórica. Esta admiradora também se chama Wallis por conta de uma admiração incontrolável de sua mãe e avó sobre a mulher que enfrentou alguns tabus para ficar ao lado do ex-futuro rei da Inglaterra. Se Wallis Simpson consegue ser forte o suficiente para se livrar de um casamento abusivo e sabe usar seu charme para seduzir um príncipe enquanto ainda é casada com o segundo esposo, a Wallis contemporânea aceita viver enclausurada por um capricho do esposo psiquiatra e passa o tempo planejando uma gravidez por inseminação artificial - sem o consentimento dele. Logo ela irá levar umas pancadas numa submissão que não dá para entender. Esse detalhe me irrita mais do que a inexplicável conexão que une as duas personagens - ao ponto de ambas conversarem sobre suas angústias. Essa fantasia é até desculpável pela intenção de mostrar que a vida de ninguém é um "conto de fadas", mas a passividade da personagem de Abbie é inexplicável. Se a atuação vigorosa de Andrea transcende o roteiro fraco, a de Cornish patina do início ao fim nos diálogos sofríveis - ela não convence nem quando resiste em engrenar um affair com o segurança da galeria (o versátil Oscar Isaac) em que visita constantemente a exposição dos pertences de sua musa. No fim das contas, acho que minhas expectativas (que eram péssimas devido às críticas severas que o filme recebeu) foram até superadas. O maior problema é que Madonna foi pretensiosa demais em imaginar que seu trato visual apurado conseguiria disfarçar que o roteiro é capenga. Não adianta nem enfeirar com exaustivos dados históricos, quando aparecem os personagens na tela, nós não queremos ouvir jornalistas comentando o "romance do século", nós queremos vê-lo estampado em cada cena dos personagens. O que vemos não é isso, temos a impressão que importa mais os dilemas da Wallis contemporânea do que a polêmica Srª Simpson. Cenas como a de Andrea Riseborough admitindo que sua personagem sabia não ser bonita e restava-lhe usar as melhores roupas ou o momento em que sua personagem idosa dança twist para o príncipe moribundo (ou até quando, num delírio anacrônico, se requebra ao som de Sex Pistols) mostram que Andrea é uma atriz que irá fazer bonito nos próximos anos. Já Madonna até mostra que sabe usar uma câmera, só falta achar um roteiro que preste. Se houvesse banido a trama estrelada por Cornish e mergulhado nas polêmicas envolvendo as figuras de Wallis e Edward (os comentários que era um casamento de conveniência entre dois homossexuais, aprofundar o envolvimento dele com o nazismo) o efeito seria melhor do que exibir a personagem como militante feminista. No entanto, pode se ler um bocado da trajetória pessoal da rainha do pop na abordagem de suas personagens, o que faz de W.E. um filme mais pessoal do que aparenta.
Oscar e Abbie: há uma história sobrando aqui...
W.E. (Reino Unido/2011) de Madonna com Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D'arcy, Oscaar Isaac e David Harbour. ☻☻
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