Medeiros: boa atuação em polêmica adaptação.
Adaptado na peça "Nossa Vida não vale um Chevrolet" de Mário Bortolotto, este filme criou várias polêmicas, mais pelo filme em si. Pra começar a companhia de carros não autorizou o uso do título original, depois de muitas negociações aceitou o uso do Opala no título - por não ser uma marca e, principalmente por ter saído de linha. Depois houve uma discussão entre o próprio Bortolotto com o roteirista do filme, Di Moretti com a argumentação de que muita coisa se perdeu na transposição para a telona. No meio da discussão ficou o diretor estreante Reinaldo Pinheiro que conseguiu criar uma atmosfera interessante à história da família do subúrbio paulistano marcada pela tarefa de ganhar o sustento com roubo de carros. Existe três aspectos muito marcantes no texto e que conduzem toda a narrativa. Um deles é a figura do patriarca Oswaldão que ao morrer (Paulo César Pereio) deixou como herança a dívida com um mafioso do ramo de desmanche de carros (Jonas Bloch). Mesmo morto o pai aparecerá para cada um de seus filhos: o primogênito Monk (Leonardo Medeiros) que tenta evitar que o caçula Slide (Gabriel Pinheiro) siga o seu caminho seja em lutas de boxe ou como ladrão de carros - tarefa já herdada pelo tresloucado Lupa (um caricato Milhem Cortaz). Nesse clã cheio de testosterona está Magali (Maria Manoella), uma tecladista que tenta fugir da sordidez ao seu redor. Outro aspecto marcante é que na ausência do pai, a vida dos filhos parece regida pelo mafioso, ele aparece como uma espécie de fantasma do "determinismo social", inclusive para convencer Magali a ser sua amante. Outro ponto marcante é a misteriosa Sylvia (Maria Luisa Mendonça) que parece saída de um filme de David Lynch. As cenas de Silvia aparecem repentinamente na trama como se acontecesse num universo paralelo, ela seduz cada um dos irmãos utilizando a mesma estratégia: mostra a foto de um homem, oferece vinho e escolhe uma música. Nesse momento surreal o diretor nos apresenta um pouco mais as particularidades dos personagens, talvez por isso, renda os momentos mais hipnóticos do filme. Apesar dos prêmios que o filme recebeu em festivais nacionais (Filme, direção de arte, atriz/Mendonça, trilha sonora e roteito no Festival de Recife e Melhor Roteiro no Cine Ceará, além de ter sido indicado ao prêmio de Melhor Roteiro Adaptado no GP Cinema Brasil), eu entendo todas as críticas que foram feitas a ele. No entanto, vou ressaltar que ele ainda consegue ser mais interessante do que a maioria dos filmes nacionais que estão em cartaz. Se a história sobre a herança falida dos irmãos está diluída em meio aos palavrões espalhados nos diálogos, a trama ainda consegue chamar a atenção pelo cuidado cênico impresso por Reinaldo Pinheiro. A edição é competente, a trilha sonora é ótima (cortesia de várias bandas paranaenses como OAEOZ, Íris, Patife Band e a própria banda de Bortolotto: "Bêbados Habilidosos") e acho que o filme poderia ser melhor se tivesse caprichado mais no final. Uma amiga me disse certa vez que filme brasileiro tem mania de acabar antes da última cena. Tive essa sensação ao ver Nossa Vida não Cabe num Opala. A estratégia pode até funcionar com alguns filmes de arte (aqueles que sabem que o objetivo já foi compreendido pela plateia), mas aqui soa apenas pretensiosamente irritante. A cena da luta do caçula com o que ele acha que deve ser (assim como a cena seguinte do pai fantasma desiludido sobre o ringue vazio) seria ainda mais forte se o filme não optasse por um ponto final prematuro. Os desdobramentos a tudo que se vê na última cena poderia deixá-lo ainda mais próximo do filme genial que poderia ser. Será essa a diferença entre o "caber" e o "valer"?
Nossa Vida Não Cabe Num Opala (Brasil/2008) com Leonardo Medeiros, Milhem Cortaz, Paulo Cesar Pereio, Maria Luisa Mendonça, Gabriel Pinheiro, Jonas Bloch, Maria Manoela, Marília Pêra e Dercy Gonçalves. ☻☻☻
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