Bane x Batman: o confronto do ano.
Sem levar em consideração o que aquele louco fez nos EUA, fazer a última parte da trilogia iniciada com Batman Begins (2005) e precedida pelo avassalador O Cavaleiro das Trevas (2008) deve ter sido uma das experiências mais arrepiantes da vida do cineasta Christopher Nolan. Eu perdi as contas de quantas vezes o diretor pediu à imprensa para não vazar informações sobre a produção - sem falar a quantidade de boatos que rondaram o filme (só para lembrar: Marion Cotillard como Mulher Gato, Phillip Seymour Hoffman como Pinguim, Shia Labeouf como Robin, Joseph Gordon Levitt como Charada ou... Coringa!!!). Sendo o filme mais aguardado do ano, O Cavaleiro das Trevas Ressurge cumpre bem o seu papel de fechar, com chave de ouro, a concepção realista de Nolan para o super-herói. Curioso é como o diretor utiliza o realismo para aproveitar tudo que o personagem tem de mito. Toda a trilogia é sobre isso. Da construção conflituosa de um ícone na primeira parte, da hesitação dos rumos a serem tomados na segunda e a lenda forjada no sacrifício por um ideal neste arremate. O roteiro tem a boa ideia de avançar oito anos depois da conclusão do filme anterior. Com a morte de Harvey Dent (Aaron Eckhardt), Gotham City vive um período esperançoso que acredita na justiça a partir da figura do símbolo Dent - mesmo que seja forjado numa mentira encoberta pelo comissário Gordon (Gary Oldman) e Bruce Wayne/Batman (Christian Bale). Ambos são os únicos que sabem a verdade sobre a morte do transtornado Dent depois que Coringa assassinou sua amada Rachel (Maggie Gyllenhaal). Acusado de ter assassinado Dent, Batman se aposentou enquanto tornou-se procurado pela polícia. Ninguém tem notícias dele ou de Bruce Wayne que tornou-se recluso em sua mansão. É nesse cárcere auto-imposto que Wayne conhece Selina Kyle (Anne Hathaway), uma ladra habilidosa que roubou o precioso colar de pérolas de mamãe Wayne. Basta uma única cena com Wayne e Kyle para que se estabeleça a química entre o herói e a vilã mais charmosa das histórias em quadrinhos. Mesmo que em momento algum Selina seja chamada de Mulher Gato, o público sabe que é a personagem que vemos na tela. Nolan sabe que os personagens de quadrinhos fazem parte de uma cultura universal e basta algumas dicas para evoca-los. Apesar de Kyle ter roubado mais do que o colar de Wayne (ela roubou-lhe as digitais), o grande vilão do filme é Bane (Tom Hardy) o vilão que quebrou a coluna de Batman nas histórias em quadrinhos e protagonista do confronto mais aguardado de todo o filme. Bane tem o plano de destruir Gotham City sob um discurso de vingar os desassistidos, mas, no fundo, trata-se de uma vingança contra Batman e seu alter-ego, Bruce Wayne. Bane também foi treinado por Rah's Al Guhl (Liam Nesson), sendo banido da Legião das Sombras por sua tendência, quase incontrolável à selvageria. Além disso utiliza uma misteriosa máscara que impede que sinta dor.
Hathaway: mais agressividade e voz murmurante.
O roteiro cria um emaranhado de tramas cuidadosamente arquitetadas por Christopher e seu mano Johnatan Nolan, no entanto é impossível não perceber muito dos planos de Coringa na postura de Bane. Se Bane é diabólico, sua ideia de deixar um detonador capaz de explodir a cidade nas mãos de um cidadão comum é uma versão ampliada dos barcos de Cavaleiro das Trevas. Óbvio que o texto aprofunda ainda mais essa ideia. Trata-se de um radicalismo pautado pela visão "revolucionária" de Bane que deixa Batman fora da ação por boa parte da filme. O que poderia desagradar os fãs, na verdade serve para que Nolan explore os outros personagens da trama e a premissa do herói de que todos podem ter atos heróicos, mesmo em gestos pequenos e igualmente nobres. Neste aspecto, o Comissário Gordon que busca sua redenção perante a cidade que enganou, Selina Kyle que busca um recomeço a partir de um programa de computador capaz de limpar seu nome e o policial exemplar vivido por Joseph Gordon Levitt merecem destaque. Claro que o roteiro reserva momentos para Lucius Fox (Morgan Freeman) mostrar seus apetrechos bat-tecnológicos e Alfred (Michael Caine) demonstrar toda sua preocupação com o patrão (eu achei que o texto exagera no tom sentimental do personagem), além disso arranja espaço até para uma namorada para Bruce Wayne, a elegante Miranda Tate (Marion Cotillard). Mas ainda que Cotillard seja uma atriz notável, capaz de dar sutilezas até às viradas mais bruscas da personagem, o par de Wayne/Batman é mesmo Selina. Fica visível os motivos de Nolan aguentar todas as críticas recebidas por escolher Anne Hathaway para o papel. Hathaway foi esperta para construir uma personagem mais agressiva que a clássica encarnação Michelle Pfeiffer. Se Pfeiffer era pura sensualidade, Hathaway é mais astuta que qualquer outra coisa (nem citarei Halle Berry, ok). É claro que ela fica sexy com aquela roupa preta e com a máscara, sua fala quase murmurada também se enquadra bem no universo de Nolan, o único problema da personagem acaba não sendo da atriz, mas das cenas de luta em que aparece - estão quase sempre mal editadas. Claro que o público não vai reclamar. Todos os personagens são peças importantes para Nolan potencializar a ação e o caos sugerido no filme anterior. Ainda que não seja tão poderoso quanto a segunda parte, o resultado prende a atenção por quase três horas de duração, sendo coerente com os outros filmes da franquia ao criar uma analogia política de profundidade incomum a uma produção direcionada para bilheterias astronômicas. Porém, a memória de Heath Ledger custou caro, já que não há qualquer menção ao Coringa na trama (e até o Espantalho de Cillian Murphy tem uma participação especial). A última cena deixa claro que Gotham City jamais será a mesma. Sem o selo Nolan de qualidade, espero que a Warner honre o seu legado. Os fãs agradecem.
Bale: o melhor Batman de todos os tempos.
BATMAN - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (Dark Knight Rises/EUA-2012) de Christopher Nolan com Christian Bale, Anne Hathaway, Tom Hardy, Joseph Gordon Levitt, Gary Oldman, Michael Caine, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Mathew Modine e Ben Mendelson. ☻☻☻☻
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