sexta-feira, 17 de agosto de 2012

CATÁLAGO: O Nome da Rosa


Connery e Slater: Holmes e Watson de época.

Eu confesso que assisti pela primeira vez o filme O Nome da Rosa somente essa semana. Lembro de quando foi lançado em 1986 o meu primo o assistiu até no cinema (e eu enchia o saco dele perguntando como era um filme onde as pessoas buscavam o nome de alguém...). Naquela época eu nem imaginava que era um famoso livro de Umberto Eco lançado seis anos antes - e que eu até comprei na época da faculdade, mas (confissão número 2) nunca terminei de ler. Não que eu ache que ver o filme é melhor do que ler o livro, mas porque, simplesmente o DVD do filme estrelado por Sean Connery caiu em minhas mãos. Minhas impressões? Gostei mais da metade para o final, quando F. Murray Abraham aparece e espanta o clima de 007 de época. Não entendeu? Eu explico. A primeira parte da trama é pautado nas investigações do monge franciscano William de Baskerville (Sean Connery) que em 1327 investiga as mortes misteriosas num mosteiro ao norte da Itália, como fiel escudeiro ele tem o noviço Adson Van Melk (Christian Slater com 15 aninhos) - que irá reavaliar o celibato. As mortes misteriosas são atribuídas à ação do demônio no local, mas Baskerville, com todo o ceticismo que sua religiosidade e experiência permitem, acredita que o motivo dos assassinatos é bem mais obra do homem do que do chifrudo. Na obra de Eco fica claro que a trama é menos sobre as mortes e mais sobre a forma como o conhecimento era (?) ameaçador para a igreja Católica. Explora a ideia dos monges copistas (que apenas reproduziam o que liam), as cerimônias religiosas em latim, o caráter subversivo do riso (que era proibido) e o temor à danação que parece mais presente do que o divino. Esses aspectos históricos que tornaram a obra um sucesso editorial - e cultuada por sua descrição do período da Inquisição - tornam o livro mais interessante do que o filme. Pra começar achei péssima  a escalação de Connery para o papel, seu jeito cínico compromete um bocado o personagem com um ar lamentavelmente canastrão (eu não sabia se ria ou chorava quando ele diz para o seu parceiro "Elementar meu caro Adson"). Entendo a necessidade que uma obra com temática tão árdua tenha de criar alívios cômicos para agradar a plateia, mas do jeito que aparece aqui, quebra totalmente o esmero da reconstituição de época. O diretor Jean Jacques Annaud precisa tanto da atenção da plateia que tenho a impressão que ele esqueceu de toda a História e resolveu criar um filme de investigação. A forma como Baskerville encontra, estuda e estabelece suas conclusões lhe configura como um ancestral de Sherlock Holmes! Somente quando ele descobre uma relação da vasta biblioteca (e seus livros proibidos) com as mortes, o filme encontra a  grandiosidade da trama do livro. É mais ou menos nessa hora que entra em cena o grã-inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham, já oscarizado por Amadeus/1984) e se convence que o demônio está realmente presente naquele mosteiro - influenciando principalmente uma mulher (Valentina Vargas) e um deficiente (Ron Perlman, antes de ser Hellboy/2004). Cavando o passado dos presentes ali, inclusive de Baskerville, Bernardo Gui estabelece uma rede de intrigas no mosteiro e apresenta uma imagem religiosa bem distante do que a igreja deveria representar. Seu métodos de tortura para conseguir confissões e a arrogância - que só os que se julgam donos da verdade podem ostentar - praticamente esmagam o herói da trama. Não nego que Connery tenha carisma, mas aqui ele contribui um bocado para desviar a atenção do universo que Eco descrevia com tanta dedicação. Um mundo onde o conhecimento era tão ameaçador quanto uma gargalhada, onde quem não se enquadrava nos padrões era destinado à danação e o amor poderia ser mais condenável do que atear fogo em alguém. 

O Nome da Rosa (The Nem of the Rose/Itália-França-Alemanha - 1986) de Jean Jacques Annaud com Sean Connerey, F. Murray Abraham Christian Slater, Ron Perlman.☻☻☻

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