Gina e Fassbender: não é nada do que você está pensando.
De vez em quando o diretor Steve Soderbergh precisa fazer um filme de maior apelo comercial para bancar suas empreitadas mais conceituais. Se Contágio (2011) já era uma tentativa de encher seus cofrinhos depois das bilheterias ruins, o mesmo acontece com À Toda Prova que estreou nos EUA no início do ano. Quando vi o trailer e todo marketing do filme em torno do fato de ser dirigido pelo mesmo cara que repaginou Onze Homens e um Segredo (2001) fica a impressão de que Soderbergh aposentou sua franquias dos ovos de outro e resolveu criar outra série que interessasse ao público. Deve ser por isso que tudo no filme é envolto de mistérios num roteiro cheio de lacunas e que mais tarde mostra-se furos mesmo. Adepto de um estilo próximo do documental, eu até entendo e repeito a opção do diretor de injetar um tom mais realista aos filmes de ação, mas ele poderia ter tomado alguns cuidados para não fazê-lo como um dos mais toscos de sua cinematografia. Se ele garantiu o marketing interesse em torno de Confissões de Uma Garota de Programa (2009) escalando a pornstar Sasha Grey para viver uma profissional do sexo, aqui ele escalou uma autêntica lutadora de MMA para extrapolar as cenas de ação. Gina Carano pode até garantir a pancadaria em cena, mas fica evidente que o diretor não faz a mínima ideia de como registrar seus embates corporais e, em busca de um tom mais realista, ele errou na sonoplastia dos golpes. Todo mundo sabe que no cinema ninguém se espanca de verdade (apesar dos parceiros de cena de Carano terem sofrido durante as tais cenas), mas Soderbergh resolveu deixar tudo com o som natural da luta - que não é luta, por tanto, não tem o peso do impacto nos golpes ou dos corpos ao colidindo com o chão ou parede. O resultado é totalmente artificial, ao ponto da brilhante sequência de Carano e Michael Fassbender no hotel perder muito do seu impacto sem os sons de uma autêntica luta cinematográfica. Esse poderia ser só um detalhe se a pancadaria desenfreada não fosse tudo que o filme deseja ter como diferencial, já que o roteiro é um dos mais preguiçosos que já vi. Os poucos diálogos não bem simples e até risíveis (dizer "é melhor correr mesmo" ao oponente parece coisa de desenho animado!), além disso, a tentativa de delinear os personagens não chegou a ser pensada (ao contrário das tentativas de imprimir um novo "estilo" ao gênero, basta ver a desinteressante cena do carro fugindo de ré sendo filmada de dentro do próprio carro). A trama conta a história de uma ex-oficial de operações especiais, Mallory Kane (Gina Carano) que trabalha para uma empresa particular de ações militares contratada pelo governo. Ela é encarregada de uma missão à pedido de seu superior (Ewan McGregor) e aos poucos descobre que tudo não passava de uma conspiração. Como dá para perceber, não é nada muito original - mas o diretor soube utilizar a sua influência para colocar nomes como Michael Fassbender, Antonio Banderas, Michael Douglas, Bill Paxton, Mathieu Kassovitz e até o apalermado Channing Tatum (que parece ter virado o novo queridinho do Soderbergh). Todos tem papéis que vão do nada ao lugar algum na trama e servem para dar suporte dramático para uma iniciante que precisou ter até a voz alterada digitalmente para melhorar a atuação. Sinceramente, o filme não me empolgou - acho que o cineasta deveria repensar a parceria com o roteirista Len Dobbs - que assina o filme mais criticado da carreira de Steve (Kafka/1991) e até os fãs de ação devem cochilar com as longas caminhadas de Mallory ou perder a paciência com o início embaralhado (onde a personagem conta a sua história para um rapaz que mal conhece e que simplesmente some da história). A gracinha do final deixa a impressão que tudo não passa de uma piada. Ao invés de lançar um filme atrás do outro, Steve Soderbergh deveria gastar seu tempo lapidando melhor seus trabalhos - garanto que seus admiradores agradeceriam.
À Toda Prova (Haywire/EUA-2012) de Steve Soderbergh com Gina Carano, Michael Fassbender, Ewan McGregor, Channing Tatum, Antonio Banderas, Matthieu Kassovitz, Bill Paxton e Michael Douglas. ☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário