Amy, Casey e Michelle: promissora estreia de Ben Affleck na direção.
Ben Affleck estava numa fase tão ruim que os fãs de Dennis Lehanne tinham calafrios em imaginar o que ele poderia fazer com a adaptação cinematográfica de Gone Baby Gone. Os tempos em que era querido pelos indies por suas parcerias com Kevin Smith estava longe, muito longe. O namoro confuso com Jennifer Lopez também não ajudou - e suas atuações se tornavam cada vez mais canastronas. Quando começou o namoro com Jennifer Garner a vida pessoal parecia voltar aos eixos. Affleck nem parecia que havia recebido o Oscar de roteiro original pela parceria com Matt Damon em Gênio Indomável (1997), estava tão desacreditado por suas atuações claudicantes que sua carreira parecia ir para a gaveta. Ele até ficou otimista quando ganhou o (questionado) prêmio de ator em Veneza por Hollywoodland (2006), chegou a ser indicado ao Globo de Ouro por sua atuação como George Reeves, mas o Oscar achou que não era para tanto. Com algum crédito com o prêmio, ele resolveu encarar seu primeiro trabalho na direção de um longa metragem (antes já havia dirigido em 1993 o curta "I Killed my Lesbian Wife...") e o resultado pegou muita gente de surpresa. No filme, Affleck mostra-se bastante eficiente ao evitar soluções fáceis. Sua estreia tem tem ritmo lento e solene ao abordar o desaparecimento de uma garotinha. No centro da trama estava seu irmão, Casey Affleck, que sempre recebeu bastante simpatia da crítica (e estava no auge com a exibição de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford em festivais, filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante). Casey é Patrick Kensie, um detetive que é contratado junto com a parceira Angela Gennaro (Michelle Monaghan) para encontrar uma menina de quatro anos que foi sequestrada. Ajudando a polícia nas investigações, Kensie tira proveito do fato de morar na região, no entanto, isso acaba tendo seus prós e contras durante o trabalho - já que seu envolvimento com os moradores coloca em risco seus valores éticos. Durante a investigação nem tudo é o que parece, especialmente quando descobrem que a mãe da garota desaparecida (numa aclamada atuação de Amy Ryan, indicado ao Oscar de coadjuvante pelo papel) é mais problemática do que imaginavam - especialmente pelas dívidas com traficantes. Ryan e Ed Harris - que interpreta o policial que instiga Kensie nas investigações - roubam fácil a cena, já que Casey Affleck opta por uma atuação internalizada e Michelle Monagahn não tem muito o que fazer em cena. Outro rosto conhecido do elenco é Morgan Freeman, que não empolga mas consegue dar força ao final surpreendente. Ainda que no desenvolvimento dos personagens o diretor Affleck não alcance todas as notas que queria (não sei se é culpa dele ou do roteiro escrito em parceria com Aaron Scotckard), existem momentos que demonstram o quanto Affleck sente-se confortável na direção. O diretor consegue criar mudanças algumas mudanças de tom valiosos na narrativa, contrastando momentos arrastados com momentos de grande tensão (será de propósito?). Além do dilema moral ao final (que deixa o espectador com uma interrogação na cabeça por semanas), o filme tem um corte tão brusco na metade da sessão que a partir dali acompanhamos quase outro filme, mais rico e interessante. Além da explorar diferentes atmosferas em sua estreia, Affleck já demonstrava interesse por personagens complexos e a valorização do seu elenco. No entanto, o filme acabou tendo problemas de distribuição por ter muitas semelhanças com o desaparecimento (ainda insolúvel) da menina Madeline. O filme fez com que Affleck conseguisse mais respeito atrás do que diante das câmeras, notou-se que era um diretor preocupado em desenvolver um estilo próprio com ecos dos filmes policiais da década de 1970 - estilo que aprimorou em Atração Perigosa (2010) e chegou ao auge com o recente Argo (2012).
Medo da Verdade (Gone Baby Gone/EUA-2007) de Ben Affleck com Casey Affleck, Ed Harris, Amy Ryan e Morgan Freeman. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário