Evans e Cusack: paródia de Sherlock Holmes?
Uum filme de suspense que tem o escritor Edgar Alan Poe como protagonista é capaz de garantir o interesse de milhões de pessoas ao redor do mundo. O texto em torno de crimes baseados na obra do autor só precisa ser bem escrito para que consiga ser um grande sucesso, pena que textos bem escritos são raridades no cinemão hollywoodiano - e quando você vê Poe bancando o engraçadinho com piadinhas tolas e diálogos que já parecem clichês, a decepção já está instaurada na primeira meia hora de duração. James McTiegue está longe de ser um diretor de pulso firme (já podiamos perceber isso em sua estreia em V de Vingança/2005) e aqui ele apenas comprova sua dificuldade de fazer um filme para adultos. Nada contra os alívios cômicos em filmes que pretendem criar tensão, o problema é que não há tensão que resista a piadinhas fracas que aparecem no começo do filme (será que a ideia era pescar parte do público do Sherlock Holmes repaginado de Guy Ritchie?). Sorte que as piadinhas vão ficando para escanteio conforme a trama avança, mas aí ela cede espaço para um episódio de época da franquia Jogos Mortais (e admito que fechei os olhos nessas cenas). A apresentação de Edgar Alan Poe (John Cusack) como personagem já é frustrante, o problema pode ser, em parte, a atuação de John Cusack que não encontra o tom do personagem ficando no automático na maioria das cenas - e quando começa a bancar o conquistador ao lado da loura Alice Eve é impossível não imaginar que ele revisita Rob Gordon de Alta Fidelidade numa versão menos inspirada. Talvez por sentir que seu parceiro de cena não estava de brincadeira, as melhores cenas de John são aquelas em que aparece perto de Luke Evans (que você ainda vai ouvir falar muito quando ele conseguir um papel sério de verdade) que interpreta o detetive Fields. A ideia do filme é promissora, já que explora as investigações em torno de um assassino que se inspira nos contos violentos de Poe e embora a ideia mantenha o charme no início ela começa a perder fôlego quando começa a se repetir demais com citações superficiais à obra de Poe (percebam como sempre detetive e autor remetem ao mesmo trecho sem novidades ou avanços) e a presença do renomado escritor começa a se tornar cada vez mais didaticamente desnecessária junto aos detetives. Embora o elenco se esforce, McTeigue perde o ritmo logo no início e resta apenas saber quem é o assassino que desafia a lógica dos investigadores. Visualmente bem cuidado, o filme não cumpre tudo o que prometeu (especialmente no poster bem bolado que ficou em sexto lugar na minha lista de cinco melhores publicada aqui no blog). Ironicamente a partir do momento em que o vilão sequestra a amada de Poe o filme se torna cada vez mais arrastado e desinteressante. O Corvo torna-se apenas uma boa ideia desperdiçada e cheia de literatices.
O Corvo (Haven/EUA-2012) de James McTiegue com John Cusack, Luke Evans, Alice Eve, Brendan Gleeson, Oliver Jackson Cohen, Kevin McNally e Sam Hazeldime. ☻☻
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