Filho e pai: a cobiça x os laços de família.
Ainda lembro quando começaram todas as expectativas em torno de Sangue Negro, o quarto filme do cineasta Paul Thomas Anderson. Eu já era fã do cineasta desde que havia assistido Boogie Nights (1997) e Magnólia (1999). Havia me acostumado com a forma com que misturava uma dezena de personagens com um equilíbrio que poucos diretores conseguiam - a crítica vivia dizendo que ele era o novo Robert Altman, o que não deixava de ser um exagero, já que Anderson tinha uma prosa cinematográfica de estilo próprio que poderia ser conferida em seu filme de estreia (Hard Eight/1996 que pouca gente viu, mas que prometo escrever sobre ele mais tarde) e até no massacrado Embriagado de Amor (2002) com Adam Sandler. Depois da parceria com Sandler, todo cinéfilo deveria estar se perguntando se a fonte criativa do diretor havia secado. O diretor ficou um tempo pensando na vida, ajudou seu mestre Robert Altman na finalização de A Última Noite (2006) e parece ter reciclado suas ideias quando teve a ideia de adaptar o romance Oil! lançado por Upton Sinclair em 1927. Não havia ideia que demonstrasse melhor que P.T. estava mais ambicioso do que nunca. Para compor o estilo que imprimiria ao filme, foi atrás de todos os grandes clássicos épicos de Hollywood (especialmente os de David Lean). Inspirado pelas locações grandiosas, os planos abertos e ambientes que parecem falar por si só dos personagens que vivem ali, o diretor fez um filme arrebatador. A história é mais árdua do que em seus filmes anteriores e o diretor consegue dar conta de cada nota desejada a cada cena durante a projeção. O filme conta a história real de um sujeito pouco conhecido, trata-se de Daniel Plainview (Daniel Day Lewis, excepcional), um pioneiro na busca pelo petróleo em solo americano. Mas não espere um herói, pelo contrário, Daniel é quase um vilão movido por pela cobiça quase doentia de enriquecer. Usando artimanhas que demonstram uma mente tão a frente de seu tempo quanto ardilosa, ele passa por brigas por terra, construção de poços de petróleo e o relacionamento com dois personagens secundários: seu filho adotivo (vivido pelo promissor Dillon Freasier) e o jovem pastor Eli Sunday (Paul Dano, ótimo). Enquanto com o filho, Daniel apresenta os momentos mais singelos de seu caráter, com Eli é justamente o contrário. Desde o início Eli demonstra ser um oponente à altura às ambições de Daniel, já que Eli possui suas próprias ambições para a região - que por acaso também envolve os boatos de que naquela região da Califórnia existe um oceano de petróleo abaixo da terra. Além desse esqueleto formado por dois alicerces da sociedade americana (o petróleo e a religião), o filme ainda consegue uma abordagem sobre os laços de família (fato que fica ainda mais evidente quando surge o "irmão" perdido de Plainview na trama), mas não espere momentos sentimentalistas ou melodramas durante a sessão. Desde o início de seus longos minutos sem diálogo, apenas com imagens de tirar o fôlego ao som da trilha sonora de Johny Greenwood do Radiohead, já percebemos que o diretor é capaz de criar um clima de tensão que irá vigorar até o final da sessão - onde a promessa do título original em inglês (There will be blood = Haverá sangue) se concretiza. Indicado a oito Oscars, o filme foi premiado na categoria de Melhor Ator e Fotografia, mas merecia muito mais já que é uma obra que já nasceu clássica!
Sangue Negro (There Will Be Blood/EUA-2007) de Paul Thomas Anderson com Daniel Day Lewis, Paul Dano, Dillon Freasier, David Willis, Ciarán Hinds e Kevin J. O'Connor. ☻☻☻☻☻
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