Cooper e Zoe: bons num filme que é metade do que deveria ser.
Bradley Cooper é um caso de ator que não se contenta em ser apenas um galã de Hollywood. Lembro de quando ele encarnava um ator garanhão em Nip/Tuck e conseguia se destacar tanto quanto os protagonistas naquelas desventuras sexuais em que se metiam. Ele foi um coadjuvante tão eficiente que eu sabia que em breve o veria em alguns filmes por aí. O ponto de virada de sua carreira no cinema foi o sucesso de Se Beber, Não Case (2009) filme que até hoje buscam explicações para sua premiação com o Globo de Ouro de Melhor Comédia do ano em que foi lançado (não que eu tenha do que reclamar). Ele poderia se contentar em aparecer em comédia romântica atrás de comédia romântica enquanto o besteirol que o lançou ao estrelato ganhasse continuações e bilheterias milionárias, mas ele não quis isso. Depois de um tempo patinando em produções suspeitas (As Idas e vindas do Amor e Esquadrão Classe A, ambos de 2010), ele descobriu que tinha que criar seu próprio caminho. Foi assim que em 2011 assumiu o risco de protagonizar Sem Limites (2011) que se tornou um sucesso e depois este As Palavras, que não chega a ser um grande filme, mas que se torna um veículo eficiente para ele apresentar seu esforço em ser reconhecido como ator sério (o que pareceu ser uma premissa do que conseguiria fazer com O Lado Bom da Vida que o tornou indicado ao Oscar deste ano). Asinado por Brian Klugman e Lee Sternthal, As Palavras poderia ser melhor se os diretores não tropeçassem na própria pretensão. Apesar das três camadas que o filme possui, as coisas poderiam funcionar muito melhor se não tentassem explicar demais o que já está bem claro no roteiro para despertar as emoções que necessita do espectador. Pra começar eu não gosto da narrativa de Dennis Quaid, acho que ele não precisa ficar descrevendo o que já estamos vendo na tela, como as palavras ditas por ele também não são nada especiais, a coisa fica ainda mais chata. Sem a narração, seria muito mais interessante acompanhar a história de Rory Jansen (Cooper), um promissor escritor que tem seu livro rejeitado pelas editoras (sob a desculpa esfarrapada de não ser o tipo de livro que funciona na estreia). Deprimido e sustentado pelo pai, ele acaba descobrindo que a esposa (Zoe Saldana) lhe deu a salvação da carreira por acaso, afinal, dentro de uma pasta de couro velha que ela lhe deu estava escondido o manuscrito de um livro pronto para ser publicado. Ao perceber que o texto é ótimo e que dificilmente quem o escreveu ainda estaria vivo, Jansen passa apresentá-lo como seu novo livro e torna-se um sucesso editorial. É neste ponto que aparece em cena o personagem de Jeremy Irons (que fazia tempo que não tinha um personagem tão interessante nas mãos), verdadeiro autor do livro e da história pessoal impressa nele. É na parte do dilema moral de Jansen que o filme se enrola, apresentando superficialmente os conflitos dos personagens num resultado confuso que deveria culminar com uma grande surpresa em torno do narrador de Dennis Quaid. Não é isso que acontece. Tropeçando em suas próprias ideias - e com a direção pouco ousada de sua dupla de diretores - o filme fica aquém do que deveria ser dentro de suas possibilidades e ambições. Pelo menos o filme consegue ter bons momentos como a história do livro e a química entre Zoe e Cooper, mas penso que Curtis Hanson (Garotos Incríveis/2000) ou Stephen Frears (Alta Fidelidade/2000) teriam feito um texto desses ter chances de chegar nas grandes premiações.
As Palavras (The Words/EUA-2012) de Brian Klugman e Lee Sternthal com Bradley Cooper, Jeremy Irons, Zoe Saldana, Dennis Quaid e Olivia Wilde. ☻☻
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