Bichir e Julián: em busca do sonho americano.
Às vezes o Oscar deixa de lado um astro para colocar nosso foco sobre um ator desconhecido do grande público. Isso aconteceu no ano passado quando todo mundo imaginou que Ryan Gosling seria indicado ao prêmio de melhor ator por conta de Tudo Pelo Poder e quem conseguiu a vaga na disputa foi o mexicano Demián Bichir. Apesar de atuar desde 1977. Tendo no currículo o hit latino Sexo, pudor y Lagrimas (1999), Bichir começou a ser conhecido quando participou de 27 episódios da série Weeds (de 2008 até 2010). Até filmar Uma Vida Melhor, seu papel mais importante em Hollywood era o de fidel Castro em Che de Steven Soderbergh, mas como o filme não foi distribuído nos EUA, o ator permaneceu sendo um ilustre desconhecido. Sem sua atuação como o imigrante ilegal Carlos Galindo, possivelmente este filme de Chris Weitz teria passado em branco nas premiações. Apesar de ter dirigido o deliciosamente pop Um Grande Garoto (2002), não existe muita alegria em Uma Vida Melhor. Carlos vive ilegalmente em Los Angeles ganhando o sustento cuidando dos jardins em mansões, para manter a sua rotina ele precisa manter-se invisível aos olhos dos americanos. Seu filho, Luís (José Julián) não parece querer seguir a mesma estratégia - e as coisas tendem a piorar quando as gangues de imigrantes locais começam a prestar atenção no garoto (para seu azar, um parente de sua namorada é um dos líderes da região). Ciente das dificuldades da vida do pai e de como é incômodo viver de cabeça baixa, Luís parece viver no limite entre a marginalidade e a educação que seu pai lhe deu. Enquanto a relação entre pai e filho se desgasta, a promessa de uma vida melhor é a compra de uma caminhonete que deveria proporcionar mais trabalho (e dinheiro) para Carlos, mas que acaba sendo roubada no primeiro dia em que é usada. Pai e filho irão se juntar para recuperar o veículo e passar a limpo alguns aspectos da relação que existe entre eles. Apesar de apontar alguns temas espinhosos (a imigração nos EUA, a marginalização dos imigrantes e a contravenção como forma de sobreviver), Weitz opta pela leveza e não tem pudores em utilizar pitadas de melodrama em alguns momentos. Aspectos como o dilema interno do jovem imigrante poderiam ser mais explorados no roteiro, que prefere resolver a situação de forma rápida e apressada. No entanto, não deixa de ser interessante como um personagem aparentemente honesto como Carlos possa estar ilegalmente em um país e ainda dirigir sem ter carteira de motorista. Essa visão borrada do mocinho é o que sustenta a interpretação cheia de dignidade de Bichir para um sujeito que está nos EUA simplesmente porque aprendeu que ali teria mais chances de alcançar o que o título promete - ainda que tudo em sua volta aponte para o contrário.
Uma Vida Melhor (A Better Life/EUA-2011) de Chris Weitz com Demian Bichir, José Julian, Bobby Soto, Tim Griffin e Trampas Thompson. ☻☻☻
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