O papai Benoît: esperanças e dramas sobrepostos.
Tornar um sujeito comum em personagem interessante capaz de nos motivar a assistir a um filme não é tarefa para qualquer um. Ainda bem que o diretor francês Jalil Lespert convenceu Benoît Magimel a dar vida a um personagem desses em Des Vents Contraires. O ator ficou famoso como o aluno favorito de Isabelle Hupert no polêmico A Professora de Piano (2001) de Michael Haneke (pelo qual ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes), mas o grande público deve lembrar dele quando apareceu ao lado de Jean Renô em Rios Vermelhos 2 (2004) na pele de um policial que não tinha muito o que fazer em cena. Magimel é um dos melhores atores franceses e basta ver esse filme melancólico para entender o motivo. Seu personagem é um jovem escritor que tenta sobreviver ao desaparecimento da esposa depois de uma discussão. Sem muito esforço, o ator deixa claro que Paul Anderen é um bom sujeito que por conta de um momento de cabeça quente terá que conviver com a culpa pelo resto da vida. Após ter que lidar com as suspeitas que caíram sobre ele, o rapaz tentará refazer a vida ao lado dos filhos ao retornar para a casa vazia dos pais em sua pequena cidade natal. Neste ponto o filme passa a ser ambientado no litoral, mas sempre parece estar muito frio por lá, então, não espere fins de tarde paradisíacos na praia e garotas de biquini, o filme pretende fazer um retrato minucioso do protagonista e dos dramas daqueles que estão ao seu redor. Anderen equilibra a esperança de um dia rever a esposa com a tristeza da ausência constante que ela deixou, para dar mais leveza ao roteiro, o filme consegue utilizar de forma bastante eficiente o retrato do dia a dia desse pai ao lado do casal de filhos (vividos por Hugo Fernandes e a irresistível Cassiopée Mayance) que é mostrado de forma realista em seus bons e maus momentos. O mais interessante é que além das lembranças matrimoniais (encenadas com o auxílio de Audrey Tautou) o filme sobrepões as dores dos personagens sem melodramas, se forma que Anderen percebe que todo mundo tem seus próprios fantasmas para exorcizar - do amigo divorciado que planeja fugir com o filho, passando pelo aluno que perdeu a carteira por atropelar alguém e chegando até o irmão (o bom Antoine Duléry) que tem sua cota de roupa suja para lavar com o irmão - todo mundo tem seu ponto de recomeço na trama, alguns bem aproveitados, outros não. Tirando a aluna ninfeta (Marie Ange-Casta) que parece subaproveitada na história, todos os personagens compôem um mosaico bastante realista daquela cidade pequena e aparentemente sem grandes acontecimentos. Jalil Lespert consegue o feito de criar um mundo próprio e bastante particular neste seu segundo longa metragem e nele, apesar de todos os eventos contrários, a esperança só morre bem próxima do final, mas mesmo partindo o coração ela é mostrada como o início de uma nova história e, neste ponto, a última cena Des Vents Contraires parece até um agradável final feliz.
Des Vents Contraires (França-2011) de Jalil Lespert com Benoît Magimel, Isabelle Carré, Audrey Tautou, Antoine Duléry, Hugo Fernandez e Cassiopée Mayance ☻☻☻
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