Os bons amigos: fábula antibelicista.
Brad Bird é um dos poucos diretores que conseguiram transitar das animações para os filmes de carne e osso sem perder o fôlego. Se pensarmos que depois dos Oscars por Os Incríveis (2004) e Ratatouille (2007) ele conseguiu realizar Missão Impossível: Protocolo Fantasma (2011), fica até difícil acreditar que que ele tem um fracasso de bilheteria no currículo - e não estou falando de um fracassinho, mas de um fracasso tão avassalador que foi responsável por fechar a divisão de animação de um grande estúdio de Hollywood. A Warner estava confiante quando produziu o primeiro longa metragem de Bird, O Gigante de Ferro. O filme custou 48 milhões de dólares e rendeu pouco mais de 23 milhões de dólares nos Estados Unidos. Uma carreira tão decepcionante para quatro meses em cartaz que o filme teve problemas em conquistar distribuidores ao redor do mundo. Ao contrário do que os números sugerem, o filme tem muitas qualidades, mas já demonstrava que Bird pensava a frente de seu tempo, deixando o filme mais sério do que a maioria das animações lançadas no final do século XX permitia. Bird já percebia que a animação é uma forma de fazer cinema e não apenas filmes infantis. Gigante de Ferro pode ser apreciado pelas crianças, mas suas referências são mais calcadas em uma certa nostalgia que é própria dos adultos. Tanto na ambientação da trama nos anos 1950, passando pela paranoia americana com o fim do mundo, alienígenas e o uso da bomba atômica. Ao misturar esses elementos, o filme mostra-se um eficiente manifesto antibelicista que poucos foram conferir nos cinemas. O filme conta a história do menino Hogarth Hughes que acaba encontrando um robô gigante na floresta. O robô, que parece ser de origem alienígena, começa a desenvolver uma amizade com o menino, demonstrando que - fora o hábito de comer objetos de metal que aparecem no seu caminho - ele é inofensivo. Os dois amigos passam a zelar um pelo outro. Não demora para que o robô seja apresentado à morte e a destruição que as armas podem causar. O gigante parece nem saber que ele mesmo pode se transformar numa arma quando sentir-se ameaçado, especialmente quando começar a ser perseguido pelo exército americano depois dos boatos de um robô gigante na pacata cidadezinha. Com mensagem edificante bem clara (de que podemos escolher aquilo que queremos ser), o filme funciona como bela sessão da tarde e ajuda a repensar a insistência que a mídia tem em mostrar os conflitos apenas por um lado - onde a fala oficial reproduz interesses e preconceitos que muitas vezes não são levados em consideração pela maioria das pessoas. Ao colocar pacifistas em confronto com pessoas que cultuam as armas de fogo, Gigante de Ferro pode não ser perfeito (alguns momentos parece ingênuo demais, até para a década de 1950), mas consegue ser um bom programa para para todas as idades.
O Gigante de Ferro (The Iron Giant/EUA-1999) de Brad Bird com vozes de Vin Diesel, Jennifer Aniston, Harry Connick Jr. e Eli Marienthal. ☻☻☻☻
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