Wallis: a mais jovem indicada ao Oscar de Atriz.
O estreante Behn Zeitlin nunca deve ter pensado que seu primeiro filme iria parar no Oscar. Acho que nem as críticas positivas conquistadas no Festival de Cannes o havia convencido de que Indomável Sonhadora tinha chances de fazer bonito na temporada de ouro. É verdade que boa parte do impacto do filme se deve à atuação da precoce Quvenzhané Wallis (merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz, tornando-se a mais nova atriz a concorrer ao prêmio) tinha pouco mais de sete anos quando filmava na pele da protagonista Hushpuppy. Sua intensidade é de fazer corar muitas atrizes celebradas! Mas a surpresa de Zeitlin deve ter brotado do fato de que seu filme é completamente fora dos padrões Hollywoodianos. Para começo de conversa seus personagens são de um grupo que o cinema americano prefere ignorar: os americanos muito pobres. Não estou me referindo aqueles que precisam trabalhar para pagar as contas, mas aqueles que, na grande maioria das vezes, não tem nem trabalho. Sim, existem pessoas muito pobres na terra do Tio Sam. Os do filme moram numa ilha (chamada carinhosamente de "a banheira") localizada numa barragem que devido a uma tempestade fica submersa. Além da pobreza, que não lembro ter sido mostrada de forma tão despudorada na produção americana recente, existe alguns toques de fantasia para que a plateia possa acompanhar a dura vida de Hushpuppy e a comunidade em que vive. Zeitlin mostra suas cenas de forma quase documental e fotografia realista (o ruim são as malditas câmeras trêmulas) para emoldura os moradores daquela localidade e seu cotidiano. O que enriquece o filme é a narrativa da garota que corta cada cena como se fosse uma navalha poética. Diante da dura realidade que presencia, ela especula sobre o que diz o coração dos animais enquanto bate, sobre o paradeiro da mãe, sobre o mundo, as geleiras e sente-se culpada pela doença do pai. Talvez por conta das reflexões da menina, os distribuidores brasileiros acharam bonitinho chamá-la de "sonhadora", mas ela está longe de fugir da realidade que a cerca. Pelo contrário, ela tem ambições bastante concretas que é sobreviver à enchente local (que irá gerar uma manifestação de moradores), reencontrar a mãe e ficar parte do pai até a inevitável despedida. O ideal deveria ser uma tradução fiel do título em inglês, Bestas (ou feras) do Sul Selvagem soa tão cru quanto o roteiro pretende ser. A ideia de Zeitlin juntar uma narrativa realista com toques de fábula (acho que é isso que significa aqueles javalis gigantes que caminham até a comunidade do filme) funciona sempre que a narradora explora as possibilidades das cenas, mas em alguns momentos o filme é bastante desengonçado na passagem dos acontecimentos que aparecem na tela. Não chega a prejudicar o filme, mas em alguns momentos o filme parece perder o fôlego. Indomável Sonhadora é um filme de baixo orçamento, repleto de ideias e de alguns vícios estéticos que merecem os quatro prêmios recebidos no Festival de Cannes no ano passado, as quatro indicações ao Oscar (filme, diretor, roteiro adaptado e atriz) e entrar para a história por revelar uma atriz que tem o nome complicado proporcional ao seu talento.
Indomável Sonhadora (Beasts of Southern Wild/EUA-2012) de Behn Zeitlin com Quvenzhané Wallis, Dwight Henry e Levy Easterly. ☻☻☻
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