Zar: uma jornalista contra um serial killer.
Na cidade sagrada de Mashaad no Irã, entre oq os anos 2000 e 2001 um serial killer foi responsável por assassinar 16 mulheres. Em comum, todas elas eram prostitutas. Na mente do assassino, ele estava em uma missão divina de limpar a cidade do pecado. As autoridades pareciam não estavam muito interessadas em encontrá-lo e a mescla de uma pretensa supremacia masculina, com ideologias religiosas e demais ideias distorcidas contribuíam para que ele prosseguisse a "missão" que lhe rendeu o apelido de Spider Killer. O diretor Ali Abassi (responsável pelo excelente Border/2019) resolveu contar essa história sem cair no suspense da caça a um assassino, tanto que desde o início revela a identidade dele: Saeed (Mehdi Bajestani), temente a Alá, empregado, casado e que aproveita a ausência de sua família para cometer as atrocidades dentro de sua própria casa. Pensando que "está no caminho certo", ele assume muitos riscos a cada crime cometido e se aproveita da negligência das autoridades para continuar. Quem irá colaborar para sua captura é uma jornalista, Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi, eleita a melhor atriz no Festival de Cannes no ano passado pelo papel), que começa a seguir pistas e indícios deixados pelo caminho por Spider Killer. Embora tenha cenas de violência bastante explícitas, Ali Abassi está mais preocupado em construir uma crônica assustadora sobre uma estrutura social em que assassinatos brutais podem ser considerados missões divinas em nome da moral e dos bons costumes, algo que se reflete não apenas na postura de Saeed como também nos obstáculos encontrados por Rahimi, uma mulher, em busca da verdade em uma sociedade opressora dominada por autoridades masculinas. As ameaças e assédios sofridos por Rahimi funcionam como um contraponto à forma como o mundo se comporta com a postura de um réu confesso que alguns exaltam como se fosse um verdadeiro herói. Abassi faz um filme tenso, áspero e necessário que acabou ficando de fora da disputa do Oscar de filme estrangeiro desse ano (e que safra maravilhosa nós tivemos hein?) provavelmente por suas alfinetadas desagradáveis em um mundo em que teima em ver mulheres como seres a serem subjugados. Embora o destino de Saeed soe como a promessa de um futuro melhor com menos impunidade, a cena final deixa claro que enquanto as ideias que o motivaram permanecerem, a história tende a se repetir.
Holy Spider (Dinamarca/Alemanha/França/Suécia/Jordânia/Itália - 2022) de Ali Abassi com Zar Amir-Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani, Sina Parvaneh, Forouzan Jamshidnejad, Mesbah Taleb e Nima Akbarpour. ☻☻☻☻
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