Naomi e Holland: laços afetivos para superar a tragédia.
Os filme catástrofe está entre os gêneros mais ingratos do cinema. O motivo é que não importa o quanto você se esforce para fazer um filme sério, sempre haverá aqueles que acusam o filme de ser melodramático, manipulador e igual a todos os outros do estilo. O diretor espanhol Juan Antonio Bayona assumiu o desafio de tentar convencer com uma das tragédias mais recentes de nosso tempo, o tsunami que devastou a Tailândia em 26 de dezembro de 2004. Para isso escalou dois atores de talento reconhecido em Hollywood e um garoto que já faz sucesso no teatro londrino e que não deve decepcionar no cinema. Baseado numa história real, o filme rendeu à Naomi Watts sua segunda indicação ao Oscar de atriz (a primeira foi por 21 Gramas/ dirigido por outro diretor de origem latina). Ela interpreta Maria, uma médica que passou os últimos anos cuidando dos três filhos enquanto o esposo, Henry (Ewan McGregor) ganhava o sustento. Eles vão passar férias na Tailândia quando o hotel litorâneo em que estavam hospedados com os meninos é vitimado pela famosa onda gigantesca. O local fica devastado, assim como os personagens diante da dor física e emocional diante da tragédia. Parece até um milagre que Maria e seu primogênito, Lucas (o ótimo Tom Holland que ganhou alguns prêmios de revelação do ano pelo papel) se encontram e precisam cruzar vários desafios para sobreviver. No entanto, ambos sabem que os graves ferimentos de Maria irão dificultar a tarefa. Há de se reconhecer que Bayona é um diretor destemido, não teve medo de mostrar que filmes de terror podem ser belamente trágicos em O Orfanato (2007) e agora mostra que um filme catástrofe pode render uma trama de respeito. Obviamente que o tsunami faz com que a trama transborde dramaticidade, a cada pessoa que a família encontra em seu caminho é difícil para o espectador não se envolver com as situações de solidariedade ou individualismo que aparecem na tela. Mas ao invés de conquistar a audiência com draminhas, Bayona esgarça tudo que o tsunami teve de avassalador na vida daquelas pessoas. Dos rasgos na pele de Maria, aos personagens sem noção de que outra onda pode surgir ou se algum parente sobreviveu à catástrofe, consegue-se atingir uma emoção tão autêntica quanto o realismo com que o diretor trata a onda gigantesca nos momentos iniciais. Esse impacto visual é primordial para que o filme funcione, por isso Bayona preferiu filmar num tanque gigante a usar apenas efeitos especiais. Além de seus méritos na construção do cenário devastado, ele ainda consegue atuações poderosas de seu elenco. McGregor consegue um de suas melhores trabalhos como o pai em busca de reunir a família, Naomi está excepcional num papel de poucos diálogos mas que lhe exige muito fisicamente, especialmente na expressão do olhar assustado diante da tragédia que se abateu. Já Tom Holland mostra-se um ator bastante promissor, vale lembrar que seu carisma não lembra o de Jamie Bell por acaso, foi Holland que viveu a adaptação de Billy Elliot (2000) para os palcos londrinos. Os mais xiitas ficaram reclamando da forma como o filme manipula toda a situação para que a plateia se preocupe com os protagonistas ricos e esqueçamos a dor dos pobres diante da situação. Esses devem ter visto outro filme, já que Bayona deixa bem claro que a situação econômica não gerou distinção na hora da catástrofe. Todos foram submetidos aos mesmos atendimentos precários movidos mais pela solidariedade do que pelas condições de salubridade. Além disso, somente um sujeito de pensamento pequeno acharia que a dor de um conta mais do que a do outro numa situação daquelas! Seja como for, a cena final onde essa distinção de condições aparece, o filme deixa claro que aquilo não diminui a tragédia, pelo contrário, parece ampliá-la sob o olhar lacrimejante de uma personagem. O Impossível é um bom filme, ainda que incompreendido - para se ter ideia, concorreu somente a um prêmio da Academia, quando merecia pelo menos outras quatro indicações nas categorias de maquiagem, edição, som e efeitos especiais.
O Impossível (The Impossible/EUA-2012) de J.A. Bayona com Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland e Geraldine Chaplin. ☻☻☻☻
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