Nicolaj e o pai: Não é fácil ter um papai peladão.
A rebeldia é um traço bastante comum no comportamento dos adolescentes. Não é necessário um conhecimento muito profundo de psicologia para entender que a busca pela construção de uma identidade não dá conta dos conflitos e indagações pessoais. O adolescente costuma ser bastante crítico e ter conflitos constantes com os pais. Isso sem falar na relação do jovem com seu grupo de amigos, que na maioria das vezes indica o que ele deve gostar, como ele deve se comportar, falar, se vestir e até relacionar-se com a família. Eu pensei em tudo isso enquanto assistia o norueguês Sons of Norway, um filme divertido, despretensioso, ainda que tenha alguns elementos que podem causar estranhamento da plateia. A maior graça do filme é acompanharmos um moleque punk que posa de rebelde pela vizinhança, mas precisa aprender a lidar como o apoio geral e irrestrito que o pai dá à sua postura transgressora. Será que ser rebelde sem abalar a figura paterna é tão divertido? Essa poderia ser a principal pergunta do filme, mas o filme tenta ir mais longe, embora nem sempre consiga. O filme começa com um garoto punk (com um alfinete atravessado entre a boca e a bochecha) causando um pequeno atentado ao acertar uma garrafa na cabeça de uma figura ilustre da região. A perseguição começa e conhecemos o início da história do (então) fofo Nicolaj (Asmund Hoeg), filho de pais descolados (e meio ripongos) que vive numa casa onde o natal tem como prato principal a paixão atual do pai: banana. Ambientado no final da década de 1970, a casa de Nicolaj é mostrada como a de uma família feliz e sem recalques, afinal seus pais não ficam constrangidos nem quando são surpreendidos fazendo sexo. Tudo poderia ser mais feliz na vida de Nicolaj se ele não começasse a ter alguns probleminhas com os valentões da escola, principalmente pelo seu corte de cabelo que ressalta a androginia do período pré-adolescente. Com tesoura na mão, Nico corta o cabelo por conta própria e sua mãe percebe uma fagulha de atitude punk naquele rapazinho. Ela o leva a uma loja de disco e ele é apresentado à música de Iggy Pop e os versos de Lust for Life. O garoto parece encontrar o seu caminho, mas um golpe do destino irá mudar as relações daquele lar para sempre. É neste período que ele vai conhecer a zoeira dos Sex Pistols e radicalizar a filosofia punk em sua vida - com direito à jaqueta decorada com a bandeira da Noruega queimada, brincos e toques de rebeldia. De início o compreensivo papai Magnus (o ótimo Sven Nordin) só estranha que os Pistols rejeitem tudo e a todos, reclamando sem apontar uma direção a seguir. Depois ele acaba apoiando aquela explosão sonora furiosa que inspira seu filho a entrar para uma banda de meninos punk que tocam pior do que eu. O quinto longa do premiado Jens Lien explora a relação entre pai e filho sem apelar para o lugar comum desse tipo de filme. Mostra um rito de passagem que acontece através da música e da postura punk que tomou o mundo após o discurso pacifista da cultura hippie. Essa relação entre as diferentes ideologias/gerações aparece de forma bastante bem humorada quando Magnus leva o filho para uma comunidade naturista e ali, no meio daquele bando de peladões, tenho a impressão que Nicolaj pode ser contra muitas coisas mas não andar vestido (principalmente naquela fase que não estamos satisfeitos com as mudanças que nosso corpo atravessa). O filme, no entanto, fica mais sombrio quando as drogas aparecem na vida de Nicolaj e seus amigos e o que era diversão começa a dar espaço para relações cada vez mais agressivas e fragilizadas. As alucinações rendem pelo menos dois bons momentos surrealistas, um deles com a participação de Johny Rotten em pessoa (ele disse que participou do filme mais por dinheiro do que por qualquer outra coisa). Simpaticamente decorado com excentricidades, Sons of Norway é um bom filme sobre a entrada na adolescência sem as firulas a que estamos acostumados.
Sons of Norway (Sonner av Norge/Noruega-2011) de Jens Lien com Asmund Hoeg, Sven Nordin e Sonja Richter. ☻☻☻
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