domingo, 23 de junho de 2013

DVD: Django Livre

Waltz e Foxx: personagens no liquidificador cinéfilo de de Tarantino. 

Não há novidade alguma em dizer que se Quentin Tarantino fosse um eletrodoméstico, ele seria um liquidificador. Ainda está para nascer um cineasta que saiba misturar tantas referências cinematográficas com tanto apelo perante o público quanto ele. Para alguns o que ele faz em Django Livre passa dos limites para outros é um espetáculo sensacional! Com duas horas e quarenta e cinco de duração (e a quantidade de atuações de pessoas como Sacha Baron Coen e Joseph Gordon Levitt que ficaram de fora da edição final deixa claro que havia ainda mais exagero na trama) parece que o diretor quase repetiu a edição em volumes que usara em Kill Bill (2003 e 2004) depois que não conseguiu editar as quatro horas de filme que tinha em mãos. A mistura inusitada de escravidão com faroeste pode até tentar enganar, mas se trata de mais uma história de vingança com a assinatura do diretor. Quando encontramos o personagem do título pela primeira vez ele está acorrentado a outros escravos, ele acaba conhecendo ali o seu parceiro Dr. Schultz (Christopher Waltz, Oscar de coadjuvante pelo papel), um ex-dentista que trocou o tratamento dentário para ser caçador de recompensas (mas deixou ainda um suvenir dentário em sua carroça). É a busca por meliantes procurados pela justiça que faz com que Django seja comprado por Schultz e se torne o seu comparsa. Os dois passam a perseguir os procurados, de forma que Django quer mesmo é a ajuda do amigo para libertar sua esposa Brunhilda (Kerry Washington) - cujo o paradeiro ele ainda não conhece. Em sua extensão o filme pode ser dividido em três partes. Na primeira conhecemos a eloquência invejável de Schultz que esconde um homem de pontaria certeira e o treino de Django para a tarefa. Na segunda, eles descobrem que Brunhilda está na fazenda de Calvin Candie (um marcante Leonardo DiCaprio), um sujeito que investe em lutas sanguinolentas de negros. É nessa parte que conhecemos o plano mirabolante de Django para resgatar a esposa e entra em cena mais um personagem inesquecível do filme: Stephen (Samuel L. Jackson) como uma espécie de mentor do escravocrata Calvin. Waltz, DiCaprio e Jackson são os personagens mais interessantes do filme, perto dele o Django de Jamie Foxx soa um tanto inconsistente perante as armações do roteiro. Enquanto Waltz constrói duas faces de um tipo tão polido que outro sujeito não daria conta de suas características. DiCaprio cria um sujeito tão podre quanto os dentes que ostenta e Jackson está excepcional como um  negro que se comporta como um traidor dos escravos. Somente na parte final, Django ganha o espaço de protagonista na trama, mas aí Foxx acaba mudando o tom do personagem (de forma que parece menos convincente do que deveria). Obviamente que os fãs de Tarantino não ligam para isso, eles estão lá pela violência exagerada, os jorros de sangue, a trilha saborosamente anacrônica (que nem sempre funciona como o esperado), os personagens marcantes, os diálogos elaborados e aquela avalanche de referências que o tornaram um dos cineastas americanos mais cultuados do nosso tempo. Apesar da história ser mais harmônica que a presente em Bastardos Inglórios (2009), ela possui certas fragilidades nos elos de entre os atos da trama. O curioso é que a energia da direção de Tarantino permanece inabalável durante toda a produção e impede que o público se desconecte - especialmente pelas cenas de ação mais elaboradas que o diretor já executou (o que é aquela cena do tiroteio na mansão Candieland?). A mistureba pode até soar original, mas se em Bastardos vimos judeus aniquilando nazistas, ver um negro aniquilando escravocratas pode ser uma espécie de repetição temática na cinematografia do diretor. Mas vejo em Django menos relação com os Inglórios e mais com a jornada da Noiva à caça de Bill. Misturas cinematográficas e históricas à parte, a forma como QT conduz o espetáculo visual de sua orgia sanguinolenta é fundamental para que o filme tenha saído do Oscar com o prêmio de roteiro original - mas nas mãos de um cineasta comum o triunfo do filme não iria tão longe.

Django Livre (Django Unchained/EUA-2012) de Quentin Tarantino com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCpario, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Franco Nero e Bruce Dern. ☻☻☻

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