Zeggers: vampiro do século XXI.
Filmes de vampiro costumam ser bastante parecidos, geralmente são filmes de época com seres sedutores de caninos afiados ou são filmes metidos a moderninhos com rapazes sedutores de caninos afiados. Talvez por isso o longa Vampire do cineasta japonês Iwai Shunji tenha me deixado tão impressionado. Seu vampiro não tem caninos grandes, não tem medo da luz do sol, não demonstra aversão a alho ou água benta, pelo contrário, parece um rapaz comum e bem educado que ganha a vida como professor de biologia e ainda precisa cuidar da mãe que lida com o mal de Alzheimer. Onde está a vampirice dessa história? Em sua essência: o famigerado apetite por sangue humano. O mais estranho é que através da figura terna de Simon (Kevin Zeggers, em mais uma boa atuação) não ficamos assustados com seu estranho apetite, mas nos sensibilizamos com suas necessidades e carências. Simon não sai à caça de donzelas indefesas para sugar sangue, ele possui seu próprio método alimentar: encontra garotas suicidas na internet, as auxilia a atingir o mórbido objetivo e em troca retira o sangue delas. Seus métodos acabam fazendo com que a polícia o interprete como um serial killer de métodos pouco convencionais, mas Simon é uma figura mais complexa do que isso. O roteiro cria todo um universo onde as relações humanas parecem um grande desafio. Dos suicidas que encontra pelo caminho, passando pela mãe (Amanda Plummer em momento irreconhecível) ou a garota chata que nutre uma paixão incontrolável pelo protagonista, todos parecem não se encaixar no mundo por motivos diversos. Todas as relações aparecem sob um peso que Shunji consegue projetar muito bem em suas cenas (talvez para realçar isso, soe extremamente poético a estratégia de Simon aliviar as dores de sua mãe durante a locomoção através do uso de uma dezena de balões de gás). Mais interessante do que a jornada de Simon pela busca de sua bebida favorita são os contrastes entre os momentos mais ternos do filme com outros que prometem desagradar os mais sensíveis. Cenas como a participação de Keisha Castle-Hughes (a menina indicada ao Oscar por Encantadora de Baleias/2002 já está crescida) dando o sangue por Simon, ou do grupo de "vampiros urbanos" - onde um membro deseja Simon de todas as formas possíveis (e mostra seu grotesco método ao escolher uma vítima nas ruas da cidade) - e a cena do suicídio coletivo na van prometem ser um teste de resistência aos mais fracos. O filme consegue equilibrar tons graves e agudos sem perder o ritmo. É excepcional a cena em que Simon e Ladybird (Adelaide Clemens) parecem uma metáfora para todos os casais apaixonados do mundo, assim como o único momento em que a mãe de Simon fala durante o filme. Enfim, o estranhamente reflexivo Vampire é um dos raros filmes que conseguem atualizar a figura do vampiro no cinema contemporâneo.
Vampire (EUA-2011) de Iwai Shunji com Kevin Zeggers, Amanda Plummer, Keisha Castle-Hughes e Adelaide Clemens. ☻☻☻☻
Asssisti e gostei, filme dificil de encontrar
ResponderExcluir