O prodígio JC: A fama como uma tigela de cereal!
JC ganhou a Palma de Ouro em Cannes (ele já recebera um prêmio no Festival pelo seu curta de estreia Cereja Crocante quando tinha apenas 13 anos). Aos 16 ganhou o seu primeiro Cesar (o Oscar francês). Preparando seu próximo longa-metragem (um musical baseado na história do pedófilo mais famoso de todos os tempos), o jovem tem dez dias de sua vida filmados para um documentário. Ficou impressionado com o currículo do rapaz? Então se prepare para saber que JC é uma bela piada com o mundo do cinema. O público e a crítica não ligou muito para esse documentário de mentirinha que rende risadas, mesmo que seja por algumas piadas bastante esquisitas. JC (o gaiato Vincent Lacoste com visual de Bob Dylan juvenil) mantém o olhar blasée ainda que more com os pais, engane a namorada romântica, saia com estrelas e prostitutas, esnoba Lars Von Trier e sonha em ter Vincent Cassel ao lado de Diane Kruger e Mélanie Laurent em seu novo filme, além de (obviamente) posar de gênio incompreendido quando precisa convencer seus produtores que que sua nova ideia é totalmente viável. O filme de estreia do diretor Jonathan Zaccaï apoia-se numa piada só, mas faz isso com tanto gosto que a plateia nem vai se importar. Além de brincar com o mundo dos prodígios do cinema, ainda brinca com a "privacidade pública" que tornou-se cada vez mais comum na era dos reality shows. JC aparece na maioria do tempo como um sujeito egocêntrico e mimado (não dispensa que a mãe lhe entregue uma tigela de cereais no café da manhã). Se essas características já é presente num adolescente comum, imagine o efeito da fama num sujeito desses? Parece que JC não se dá conta do quanto sua rotina atrapalha quem está ao seu redor (ou então, percebe e não está nem aí). Considerei que as melhores piadas são aquelas onde os personagens querem trair o documentário que está sendo filmado (como a amante estrela de cinema vivida por Elsa Zylberstein fingindo que entre eles o relacionamento é apenas "artístico" quando se encontram num quarto vestidos em cima de uma cama de casal, ou quando os pais pedem que desliguem a câmera para que possam dar um sermão no mocinho), além das impagáveis cenas de atores apontando suas semelhanças com o personagem do novo filme de JC (um pedófilo, lembra?). As desventuras do jovem diretor irão levá-lo até a casa de um produtor (que pode até financiar o polêmico musical se sua esposa tiver um papel no filme) e a conhecer um jovem diretor (vindo das artes plásticas) que pode até tomar o seu lugar no mainstream. Ao fim dos dez dias de filmagem (que inclui até uma invasão ao quarto dos pais de JC) o documentarista chega a conclusão que JC é genial - enquanto o câmera considera o rapaz completamente biruta. No fim das contas essa despretensiosa comédia francesa consegue ser bastante divertida sem mostrar a redenção de sua celebridade inventada (sem perder a chance de alfinetar por dentro a pompa que ainda enxergam no cinema francês). Obviamente que com tanta genialidade, o filme não poderia deixar Jean Luc Godard de fora (no caso ele "aparece" enquanto sobe os créditos comentando suas impressões sobre tudo, inclusive Shrek 2!! A brincadeira rendeu o nome do filme no mercado internacional: Play it Like Godard.
JC Comme Jésus Christ (França/Bélgica - 2011) de Jonathan Zaccaï com Vincent Lacoste, Elsa Zylbertein, Kad Merad, e Aure Atika. ☻☻☻
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