Chastain: é duro ser mulher na CIA.
Já ouvi muita gente falando que Kathryn Bigelow dirige feito um homem. Discordo dessa frase não somente pelo fato de soar extremamente machista, mas porque muito homem não dirige feito ela. Desde que se tornou a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção, Bigelow se tornou ainda ainda mais seca e crua em sua narrativa. Vale ressaltar, que não vejo problema algum nisso. Muita gente torceu o nariz para o tom de seu Guerra ao Terror (2008), reclamaram de sua imparcialidade (?!) de não acusar a guerra como algo ruim. Essa crítica poderia ser até pertinente se o foco da moça não fosse outro: mostrar como o belicismo corre nas veias dos americanos (ou não foi isso que ficou claro quando o personagem de Jeremy Renner fica entediado com a comodidade do lar - e a companhia da esposa - e volta para o campo de batalha?). A ideia nem era uma novidade, já que Sam Mendes já havia tratado o assunto em Soldado Anônimo (2005), só que com a diferença de possuir toneladas de ironias e piadinhas sobre a necessidade dos rapazes dar alguns tiros por aí. Em Guerra ao Terror a coisa era diferente: uma ambição realista que beirava o documental. A Hora Mais Escura é o claro passo seguinte ao filme anterior. Sai a vida na linha de frente e chega-se aos bastidores, ou seja, as ações dos estrategistas da CIA para encontrar o paradeiro de Osama Bin Laden. Já ficou famosa a história que depois que o líder terrorista foi encontrado, o roteirista Mark Boal teve que transformar seu roteiro em algo mais coerente com a realidade atual. Além disso, o filme gerou muita polêmica. Uma delas ficou por conta de Boal afirmar que se baseou em depoimentos de agentes da CIA metidos na operação (alegando que não citaria nomes por ter que preservar suas fontes), a outra é que se a história é tão comprometida com a verdade como diz, então os americanos torturaram em nome do paradeiro de Bin Laden (algo que negam veementemente). Sinceramente, eu prefiro acreditar em Papai Noel! Guantánamo e Jack Bauer já deixaram claro que a tortura não é tão rara quanto gostariam que imaginássemos. Obviamente que a tortura é uma violência, como todas as outras, injustificável - além de uma tática questionável de obter informações. O que mais deve ter chocado é o fato da protagonista, Maya (Jessica Chastain) presenciar a tortura com visível desconforto mas sem muito remorso (durante o filme vários personagens aparecem reclamando quando Obama proíbe os "interrogatórios"). Mas quem disse que a tortura deve ser aceita pela plateia só porque os personagens não a questionam? Afinal, trata-se de uma obra para adultos e espera-se que esses tenham discernimento para interpretar um filme! Penso que Boal e Bigelow fizeram uma reconstituição notável dos acontecimentos em torno da operação em busca de Bin Laden. A coisa é tão minuciosa que me senti tão exausto quanto os personagens. Os fatos estão ali, resta-nos interpretá-los diante da linha do bem e do mal que aparece meio borrada entre os mocinhos e bandidos do filme. Talvez os méritos do trabalho da diretora esteja justamente em deixar que os atos de seus personagens falem por si, sem necessidade de mastigar e regurgitar para o espectador o que já é visto. Pelas descobertas de Maya e sua dificuldade de se impor na fronteira entre universos repletos de testosterona, a atuação de Chastain foi muito elogiada. No início sua personagem parece apenas de corpo presente, mas conforme compreende aquele universo ela ganha força para se impor diante dos outros personagens e situações que atravessam seu caminho (passando pelo convencimento dos superiores aos atentados que sua equipe sofre). Entre perdas, suspeitas e estratégias, o filme torna-se um recorte diferente de uma história bem conhecida dos jornais, mas que aqui é tratada com a frieza distante da esfera burocrática em confronto com a protagonista (que tomou à caça ao terrorista mais famoso do mundo como algo pessoal). O filme concorreu a cinco Oscars (Filme, atriz, edição, roteiro original e ganhou o de edição de som) e tantas polêmicas acabaram colocando o filme em comparações com Argo (2012) que ganhou o Oscar deste ano.
A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty/EUA-2012) de Kathryn Bigelow com Jessica Chastain, Jason Clarke, Jennifer Ehle, Mark Strong, James Gandolfini, Stephen Dillane e Joel Edgerton. ☻☻☻☻
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