Duda e João: a vida em canções de Roberto Carlos.
A relação entre música e cinema é tão antiga que antes mesmo de inventarem um modo do filme ter som, contratava-se músicos para tocar a trilha sonora enquanto o filme era exibido. Portanto, não deixa de ser interessante que o cinema vez por outra lance filmes inspirados em canções. Já comentei sobre isso antes no blog, filmes como Magnólia (1999) e o recente Faroeste Caboclo (2013) só confirmam que a tendência tende a ganhar força. Ano passado, o brasileiro Breno Silveira confirmou ser o diretor com maior fetiche para o gênero, não se contentando em lançar um filme inspirado em músicas, mas dois do gênero em 2013. Gonzaga - De Pai para Filho e À Beira do Caminho, demonstram como o diretor tem habilidade de gerar imagens a partir de composições (nem vou mencionar o sucesso estrondoso que o diretor alcançou com Dois Filhos de Francisco/). Em À Beira do Caminho, o diretor se apropria do texto de Patrícia Andrade calcada nas composições do "rei" Roberto Carlos. Acho que todo mundo teve a vida marcada por pelo menos uma música do cantor, gostando dele ou não. Eu, por exemplo, prefiro muito mais quando cantoras da MPB entoam seus versos do que quando RB está cantando seu repertório, mas cresci com uma mãe que em todo natal ganhava de presente um disco (é amigos, podem ver o tiranossauro passando pela janela) do cantor, mas faz tempo que ela não se empolga com a obra de vossa majestade. Para ela o cara não é mais ele faz tempo. Mas ainda bem que o assunto aqui é cinema! É inegável que Silveira sempre tem grande respeito pelas canções que utiliza em seus filmes e aqui não poderia ser diferente. Contando a história do encontro do amargo caminhoneiro João (o sempre bom João Miguel) com o menino Duda (o prodígio Vinícius Nascimento), o diretor alcança momentos de bastante sensibilidade e força dramática. É verdade que de vez em quando o texto exagera nos traumas da dupla, mas o resultado consegue ser bastante envolvente. Desde o início João é contra deixar o menino seguir viagem com ele, mas aos poucos aquele menino, que deseja ir para São Paulo encontrar o pai, consegue conquistá-lo. Vale dizer que o garoto enche os olhos da plateia desde a primeira cena. O relacionamento entre os dois é cheio de rusgas, discussões e desentendimentos que parecem ter relação com o passado de João (que aparece em flashbacks espalhados como se fossem vírgulas). Parece-lhe difícil ter alguém com quem se importar. Somente quando aparece a personagem de Dira Paes percebemos que a relação entre João e Duda já estrapolou a amizade, trata-se da constituição de uma família pouco convencional. O que isso tem a ver com Roberto Carlos? Doze canções! O Diretor utiliza doze composições do artista em seu filme, algumas encaixadas de forma brilhante. As canções de Roberto também serviam de contraponto Inspirado em tantas canções, o resultado poderia investir menos nos dramas de João, mas ainda assim, o resultado é um bom filme e com merecido final feliz depois de fazer a plateia (incluindo minha mãe) derramar algumas lágrimas. Vossa majestade agradece!
À Beira do Caminho (Brasil/2012) de Breno Silveira com João Miguel, Vinícius Nascimento e Dira Paes. ☻☻☻☻
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