Adrien Brody e Polanski em O Pianista: o filme favorito do diretor.
Não resta dúvidas de que Roman Polanski é um dos maiores cineastas do século XX. Também não resta dúvida de que é um dos que possui a vida mais marcada por tragédias e polêmicas. Ainda menino, sobreviveu ao holocausto no gueto de Cracóvia, presenciando a morte de amigos e da própria mãe. Com a vida reconstruída e a carreira consolidada em Hollywood, a esposa grávida Sharon Tate foi assassinada pelo lunático Charles Manson e seu bando em 1969. Não bastasse essas tristezas, ele foi acusado de seduzir uma garota de quinze anos numa festa, sendo preso em 1977 num processo que até hoje lhe persegue. Esses são alguns dos assuntos abordados neste documentário idealizado pelo amigo Andrew Braunsberg, filmado na casa do cineasta em Gstaad, na Suíça. Desde o início fica claro que Andrew é amigo de longa data de Roman, é essa intimidade que diferencia o documentário, em formato de entrevista, de um talk show televisivo. Diante da câmera, Polanski relembra as dificuldades vividas durante a Segunda Guerra Mundial, as dores das perdas e momento marcantes como o reencontro com o pai. Andrew explora bastante esse passado doloroso do diretor (talvez até demais), mas consegue estabelecer relações interessantíssimas entre esse período com o filme que muitos consideram a obra-prima do cineasta: O Pianista (2002), filme pelo qual o cineasta recebeu o Oscar de direção em 2003. Cenas como a que o pai do personagem é agredido ou o momento em que Adrien Brody tenta abrir uma lata de picles são inspiradas em vivências do próprio diretor. O filme ressalta ainda mais toda a dor que o diretor sentiu durante aquele período sobreposta na história do pianista Wladyslaw Spilszman. O diretor ainda comenta o início de sua carreira, quando sua estreia com A Faca na Água (1962) foi perseguido pelos sensores e quando filmado só encontrou prestígio quando lançado no mercado internacional (sendo até indicado ao Oscar de filme estrangeiro). É curioso ainda as lembranças de suas participações como ator em alguns filmes (desde a adolescência), sua rejeição ao sucesso Repulsa ao Sexo (1965) estrelado por Catherine Deneuve. Os fãs ainda vão gostar de vê-lo ao lado das equipes de seus filmes (inclusive de O Deus de Carnificina/2010, filme em que trabalhava quando o documentário foi realizado). Apesar de retratar sua felicidade atual ao lado de Emmanuelle Seigner, o filme se rende mesmo aos acontecimentos obscuros na vida do diretor. Sobre a morte de Sharon Tate fica claro que o diretor ainda não digeriu a perda tão traumática. Sobre a acusação de pedofilia (que rende a prisão do cineasta na Suíça quando ele viajava para receber um prêmio), o filme mostra um trecho da entrevista com a garota-já-crescida que conta por que considera que a mídia e a justiça prejudicaram mais sua vida do que a noite que esteve ao lado do cineasta. Sem firulas, mas com cenas de arquivo dos longas mais relevantes da carreira do cineasta, o filme consegue ser eficaz em sua simplicidade e nos fazer admirar ainda mais o talento que surgiu de uma trajetória tão conturbada.
Roman Polanski: Uma Vida em Filmes (Roman Polanski: A Film Memoir/Reino Unido; Itália; Alemanha -2011) de Laurent Bouzereau com Andrew Braunsberg e Roman Polanski. ☻☻☻
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