Jackman: Cosette no colo de Wolverine?
Continuando minha peregrinação pelos indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano, que acabam de chegar em DVD, assisti a Os Miseráveis de Tom Hooper. Para introduzí-los a todos os meus receios sobre o filme vou ser bem direto antes de falar sobre o material em si. Lembro quando estava na Universidade Federal Fluminense fazendo aula de Cinema e Literatura quando a professora exibiu a versão de 1998 da obra de Victor Hugo para o cinema. Os Miseráveis (1998) tinha direção de Bille August e atuações inspiradas de Liam Neeson (na pele de Jean Valjean), Geoffrey Rush (Javert), Uma Thurman (Fantine) e Claire Danes (Cosette). Apesar de toda dedicação o filme tinha produção modesta e não empolgou nas bilheterias. Na ocasião a professora levou até a trilha sonora do musical inspirado na obra. Na hora eu achei esquisito, afinal, um musical com um protagonista condenado para o resto da vida por roubar um pedaço de pão não é propriamente a matéria prima para agudos inspirados. Depois do Oscar por O Discurso do Rei/2010 (que apesar de toda a produção de poucos recursos ganhou quatro prêmios da Academia, incluindo melhor filme), Tom Hooper alardeou que faria uma adaptação do musical Les Misérables. Eu fiquei preocupado. Conforme as estrelas aderiam à produção (Hugh Jackman - que há tempos queria um musical na telona -, Russell Crowe e Anne Hathaway) meu interesse foi crescendo. Durante toda a campanha de marketing ficou bem claro que esta sexta adaptação da obra de Victor Hugo para a telona tinha a produção mais caprichada. Dos cenários aos figurinos, ele parece ter custado muito mais do que os alardeados 61 milhões de dólares. No entanto, eu sabia que a minha relação com o filme seria complicada. Quero deixar claro que não há do que reclamar do filme enquanto produção cinematográfica. Tudo nele é de encher os olhos, as atuações, o som, as imagens, no entanto eu precisei de alguns minutos para me acostumar ao vilão Javert (Crowe) cantando sempre em terceira pessoa enquanto persegue Jean Valjean (Hugh Jackman)! Acho que até em Dançando no Escuro (2000) de Lars Von Trier as mazelas cantadas faziam mais sentido. Depois que eu me acostumei com a narrativa cantada eu achava que estava tudo resolvido, mas achei a duração longa demais (duas horas e quarenta minutos) para ouvir as canções quase sempre parecidas. Talvez por isso, os momentos que mais me empolgaram foram os monólogos de Eponine (a revelação Samantha Barks) e Fantine (Hathaway, que levou o Oscar de coadjuvante pela cena), ambos me soaram mais intimistas e reais do que a maioria dos números apresentados. Quem conhece a história clássica irá identificar que a essência da obra de Victor Hugo está presente. Seu discurso panfletário contra a miséria da França no século XIX e a necessidade de uma Revolução para mudar o sistema opressor existente. Os personagens são retratos dessas mazelas. Jean Valjean (Jackman) é um homem condenado eternamente por roubar um pão, ele foge de sua condicional e clandestinamente se torna um homem de respeito. Sua vida seria melhor se o obstinado inspetor Javert não o reencontrasse, justo quando Jean se sensibiliza com a história de Fantine, que precisa trabalhar para que uma dupla de picaretas (Sacha Baron Cohen e Helena Bonhan Carter) cuide de sua pequena filha pequena Cosette. Valjean acaba fugindo com Cosette (quando crescida será Amanda Seyfried) que irá se apaixonar pelo revolucionário Marius (Eddie Redmayne). Mais do que homem da lei, Javert é um sujeito que persegue sua classe de origem como se isso o afastasse de suas origens, enquanto Jean é seu completo oposto (sendo movido por ações notadamente humanistas). É dessa relação dicotômica que a história se nutre. Hooper consegue manter a intensidade dos personagens, mas tanta pompa pode ficar cansativa para quem não tem o gênero musical entre os seus favoritos ou para fãs ferrenhos da obra de Victor Hugo. Ainda tenho minhas ressalvas de que tudo pode se tornar um musical (já imaginou um com o Quarteto Fantástico?), mas pode ser pura rabugice minha! Vale conferir os méritos de Les Misérables nem que seja para constatar que Hugh Jackman não pode ser condenado a ser Wolverine para sempre.
Os Miseráveis (Les Misérables / EUA/Reino Unido-2012) de Tom Hooper com Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonhan Carter, Eddie Redmayne, Samantha Barks e Aaron Tveit. ☻☻☻
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