Thomas e Cécile: à família que escolhemos.
Os irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne estão na ativa desde a década de 1970. Em quase cinquenta anos prestados ao cinema tornaram-se uma referência cinematográfica, especialmente quando falamos de filmes europeus. Com 17 filmes no currículo os manos ficaram famosos por suas tramas repletas de referências às estruturas familiares, sendo que em sua última obra O Garoto de Bicicleta, deixaram claro que os laços familiares são mais complexos do que apenas o compartilhamento do mesmo sangue ou DNA. O filme foi indicado à Palma de Ouro em Cannes e foi premiado com o Grande Prêmio do Júri (os manos colecionam prêmios em Cannes, são cinco ao todo) e, de quebra, foi indicado ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro. Por muito pouco o longa não apareceu entre os indicados ao Oscar no ano em que a França estava com tudo perante à Academia (O Artista, Meia Noite em Paris, Um Gato em Paris...). O que deve ter prejudicado o filme é que ele tem uma história bastante simples, mas filmada com o brilhantismo que somente os grandes mestres do cinema são capazes de imprimir. Apesar da fotografia límpida e do nome simpático, a história pode soar árdua para alguns, já que narra a história de um garotinho que é rejeitado pelo pai. No início Cyril Catoul (o eficiente Thomas Doret) tenta fugir do orfanato em que seu pai o deixou, mas não tem muito sucesso. Não entendemos muito bem o motivo de sua revolta, até o dia em que consegue fugir e descobre que seu pai se mudou e vendeu sua bicicleta. Descontente com a descoberta, Cyril precisa de ajuda para descobrir o paradeiro do pai e para isso conta com a bem intencionada Samantha (Cécile de France), uma cabelereira que mora na vizinhança e que pode ter algumas pistas sobre o paradeiro dele. Quando Cyril reencontra o pai a decepção é inevitável, já que ele deixa bem claro que não quer mais cuidar do filho. Tudo que a cena possui de arrasadora também possui de reconfortante na figura de Samantha que percebe o quanto Cyril precisa de referências para lidar com a dor e crescer. Cyril passa a ficar com ela durante os fins de semana e as coisa vão bem até o momento em que conhece pessoas que podem se aproveitar da revolta que ele ainda não conseguiu filtrar. Existem momentos bastante tristes no filme, mas também existem outros bastante esperançosos até o final em que mostra que a violência só gera mais violência, seja ela emocional ou física, independente de suas motivações. O Garoto de Bicicleta tem o mérito de em toda a sua simplicidade causar sucessivos nós em nossa garganta até o desfecho em que só desejamos que Cyril seja feliz ao lado da família que escolheu. Talvez debaixo de toda sua simplicidade, o filme queira chamar a atenção onde os pais tentam perceber cada vez menos a importância que tem na vida dos filhos, de forma que projetam neles suas emoções de adultos e esperam que lidem com o mundo como se fossem adultos em miniatura. Sendo que, nem os adultos conseguem lidar direito com o mundo que criaram.
O Garoto de Bicicleta (Le gaumin au vélo/Bélgica-França-Itália/2011) de Jean Pierre Dardenne e Luc Dardenne com Thomas Doret, Cécile de France, Jérémie Renier e Fabrizio Rongione.☻☻☻
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