Marco: entre a cruz e a arma.
O filme O Nome da Morte é baseado na história real de Júlio Santana, pistoleiro que proclama para si 492 de mortes no currículo. Sua história foi contada no livro do jornalista Klester Cavalcanti que ressalta detalhes (como os trabalhos anotados num caderno com capa do Pato Donald). Transformar uma trajetória destas em filme poderia se contentar em ser uma sucessão de crimes, mas a história pessoal de Júlio faz a diferença enquanto costura o filme. Júlio nasceu em uma família humilde na cidadezinha de Porto Franco no Maranhão e em busca do sonho de ter uma vida melhor, sonhava em fazer concurso para a PM e ter uma vida estável. No entanto, sua vida seguiu um rumo completamente diferente com o auxílio do tio que ciente da boa mira do rapaz o iniciou no mundo do crime. A PM em sua vida se resumiu apenas ao uniforme que servia de disfarce para entrar e sair da casa do tio que o abrigou e gerenciou os serviços por muito tempo. O ator Marco Pigossi faz um bom trabalho como o rapaz que temente à Deus se consome em culpas e penitências até se tornar um assassino frio, capaz de tirar a vida de homens, mulheres, líderes comunitário e indígenas pensando apenas no dinheiro que receberia. Aos poucos ele se acostuma com a rotina e ao se apaixonar por Maria (Fabiula Nascimento) cresce a necessidade de ganhar mais dinheiro, construir casa e sustentar a família. Cada vez mais requisitado, a narrativa destaca alguns dos "serviços" de Júlio e pontua ao longo do filme a quantidade crescente de vítimas. Do rapaz horrorizado com o primeiro serviço ou do choro compulsivo da perda da inocência até a cena de abertura (que impressiona pela destreza com que o diretor Henrique Goldman conduz sua câmera numa elaborada perseguição) existe um longo trajeto, mas nada que nos prepare para a tenebrosa cena em que o pistoleiro precisa tirar a vida de uma mulher a mando do marido. Vale destacar que o filme não deixa de ter um comentário social bastante ácido por trás das reviravoltas na vida do protagonista. Da vida humilde, passando pela prosperidade, de crises financeiras até a boa vida e uma tragédia pessoal devastadora, a vida de pistoleiro parece sempre à espreita, pronta para puxa-lo de volta e, embora a religiosidade seja pontuada em vários momentos, a ideia da salvação parece está cada vez mais distante. Neste ponto, vale destacar as guinadas da personagem de Fabiula Nascimento que também possui transformações marcantes na história, especialmente em sua segunda parte. Bem cuidado visualmente e conduzido com segurança por Henrique Goldman, O Nome da Morte assusta e consegue ser mais do que um filme de ação, acaba se tornando um triste retrato de um país com grandes desigualdades sociais em que a violência se tornou banal.
O Nome da Morte (Brasil / 2017) de Henrique Golman com Marco Pigossi, Fabíula Nascimento, André Mattos, Jéssica Alencar, Matheus Nachtergaele e Hygor Diniz. ☻☻☻☻
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