Wei: a educação rural chinesa pelas lentes de Zhang Yimou.
Na pequena escola rural da aldeia de Shuiquan o professor precisa se afastar por um mês para cuidar da mãe doente e a única pessoa que pode substituí-lo é Wei (Minzhi Wei), uma menina de treze anos sem experiência como professora. Wei sabe ler e escrever e isso já basta para que assuma a classe. Logo vemos que as condições são precárias, a paisagem é árida e ela recebe duas missões: gastar um giz por cada dia e manter todos os alunos frequentes até que o professor retorne. Este é ponto de partida para um filme emocionante. Lembro que vi Nenhum a Menos no cinema quando estava na faculdade e embora a escola fosse ambientada na China, impossível não lembrar que a dificuldade vivida por aquelas crianças se repete em muitos lugares, inclusive no Brasil. No entanto o que faz o filme ser tão envolvente é a forma como o diretor Zhang Yimou constrói sua narrativa quase documental, como se estivesse com uma câmera escondida naquela realidade e todos seguissem suas vidas como se nada estivesse sendo registrado. Tudo é apresentado de forma simples, mas cheia de significado. A bagunça em sala de aula, o nervosismo de Wei diante de lecionar, a sensação de frustração até os momentos em que começa a perceber o que funciona e o que não funciona diante daquele grupo de alunos que são quase da mesma idade que ela. Se podemos enxergar aqui que ensinar não é só escrever a matéria no quadro e pedir para que os alunos fiquem em silêncio, também podemos perceber que o conhecimento não está restrito à sala de aula - neste ponto é emblemática a cena em que os alunos dividem o conteúdo de uma latinha de Coca-Cola, bebida nunca experimentada. Wei entra em desespero quando uma aluna veloz é descoberta para ser treinada e se tornar atleta longe dali, mas não se compara quando vê que outro aluno se ausentou da escola: o agitado Zhang Huike. Devido a situação pobre da família, o menino é obrigado a ir para a cidade trabalhar. Ciente da promessa que realizou, Wei parte em busca dele e se depara com a realidade da cidade grande e o triste destino que o menino poderá ter. Yimou cria um filme comovente protagonizado por atores amadores, diálogos quase sempre improvisados e um frescor raro de se ver. O 56º Festival de Veneza ficou encantado com a obra e lhe conferiu o Leão de Ouro do Festival em um ano com dezenove concorrentes (estavam na disputa Regras da Vida de Lasse Hallström, Uma Relação Pornográfica de Frédéric Fonteyne e Topsy-Turvy de Mike Leigh), com o prêmio Zhang Yimou fez história ao se tornar o segundo diretor a ganhar duas vezes o prêmio (a primeira vez foi com A História de Qiu Ju em 1992).
Nenhum a Menos (Yi ge dou bu neng shao/China - 1999) de Zhang Yimou com Minzhi Wei, Huike Zhang, Zhenda Tian, Enman Gao e Fanfan Li. ☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário