terça-feira, 1 de setembro de 2020

Ciclo Verde E Amarelo: O Último Cine Drive-In

Breno e Bastos: nostalgia e reconciliação. 


Há uma razão especial para começar com O Último Cine Drive-In este Ciclo Verde & Amarelo em tempos pandêmicos. Seria o maior clichê dizer que o filme é uma declaração de amor ao cinema, não apenas enquanto arte, mas enquanto espaço mesmo. Aquele lugar que você compartilha com vários desconhecidos e compartilham a mesma emoção ao mesmo tempo, às vezes em sintonia completa. Mas o filme ainda é sobre um tipo de espaço de exibição bastante específico que ganhou força durante estes tempos de isolamento social, os drive-ins, ou como uma personagem diz a certa altura: "cinema para quem tem carro". A pandemia revitalizou estes espaços considerados mais seguros para ter uma experiência cinematográfica com o fechamento das salas convencionais. Nem precisa dizer que sinto uma saudade danada de ir ao cinema! O drive-in do título é praticamente um dos personagens do filme e promove o reencontro emocional entre Brandinho (Breno Nina) e seu pai, Almeida (Othon Bastos), o dono daquele espaço e pai ausente que passou anos sem ver o filho. Os dois se encontram de forma meio torta quando o protagonista é expulso do hospital em que a mãe, Fátima (a ótima Rita Assemany) está internada aguardando um exame há dias. Fica evidente que existe um bocado de ressentimento entre os dois e aquele Drive-In começa a impor as lembranças daquela família naquele espaço. O primeiro longa de Iberê Carvalho então decora seu filme com tantas memórias quanto pôsteres de filmes e retrata de forma bastante emocional a importância daquele espaço para todos os personagens. Fiquei particularmente emocionado quando Fátima conta como foi trabalhar naquele espaço e ver as pessoas diante da telona, do filme refletido nos vidros de todos os carros - e quem não tem lembranças sobre um momento na cena escura? Vale ressaltar que o filme sabe utilizar muito bem a tela de projeção ao ar livre durante a narrativa. Seja com os créditos rolando no vazio da escuridão ou com a projeção do clássico Central do Brasil/1998 (não por acaso, um filme de reencontro com participação do veterano Othon Bastos). Misturando drama, com doses discretas de humor (esqueci de dizer, Brandino se chama Marlonbrando, assim mesmo, todo junto - e existe até o pôster de O Poderoso Chefão nos cenários) e bastante nostalgia, O Último Cine Drive-In costura seus personagens como uma grande família que compartilha a mesma história e caminha devagar para uma mudança motivada para uma nobre contravenção que muda um pouco o seu tom melancólico. Outro destaque do filme é ser ambientado em Brasília e apresentar um cenário bastante árido, bem diferente dos cartões postais da capital nacional. Ao voltar sua câmera para um canto pouco explorado (incluindo os bastidores de uma projeção tradicional), Iberê Carvalho faz um filme interessante. 

O Último Cine Drive-In (Brasil - 2015) de Iberê Carvalho com Breno Nina, Othon Bastos, Rita Assemany, Othon Bastos, André Deca, Zécarlos Machado, Fernanda Rocha, Chico Sant'Ana e Rosanna Viegas. ☻☻   

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