domingo, 6 de setembro de 2020

Ciclo Verde e Amarelo: Todas as Canções de Amor

Bruno, Mariana, Julio e Luiza: dois casais e um apartamento. 

O filme Todas as Canções de Amor me chamou a atenção pela trilha sonora. Misturar Cartola, Gal Costa, Caetano, Maysa, Rita Lee, Velvet Underground, Marisa Monte, Blitz, Gil e Cazuza numa mesma sessão não acontece com frequência. Enfim, os ouvidos agradecem! A cineasta Joana Mariani fez um filme interessante sobre dois casais que vivem em tempos diferentes dentro do mesmo apartamento.  Existe uma distância de vinte anos entre o casal do presente e o casal do passado, mas a conexão entre os dois surge através de uma caixa de fitas cassetes deixadas por Clarisse (Luiza Mariani), que morou naquele apartamento com Daniel (Julio Andrade). As fitas são encontradas pelo jovem casal quando se mudam para o novo apartamento, Chico (Bruno Gagliasso) e Ana (Marina Ruy Barbosa) tem um bocado de coisa para arrumar - não apenas móveis e coisas dentro de caixas, mas entre a vida debaixo do mesmo teto também. Tão logo encontra as fitas, Ana começa a especular sobre a vida dos antigos moradores, assim, somos apresentados à dissolução do relacionamento entre Clarisse e Daniel. O contraste entre os dois casais em fases diferentes é marcante e cria uma conexão especial com Ana, que fica surpresa com as músicas deixadas por Clarisse, repletas de romantismo, mas também de desilusão e tom de despedida. Enquanto especula sobre o que houve com os antigos moradores do apartamento, Ana começa a escrever sobre os dois e Chico fica cada vez mais incomodado com o tom obsessivo com que a esposa lida com aquela história - o que também tempera o filme com a incerteza de acompanharmos a realidade sobre Clarisse e Daniel ou apenas o casal imaginário pensado por Ana, já que ela não possui mais pista alguma sobre os dois, ou até se aquelas são perspectivas de Ana sobre um futuro à espreita. Imaginários ou não, a intensidade impressa por Luiza Mariani e Julio Andrade faz com que seus personagens soem muito mais reais do que os de Bruno e Mariana, que ao invés de lidar com problemas reais de um casal, tem a suas histórias cada vez mais dependentes de Clarisse e Daniel, no jogo de espelhos que se instaura, os dois jovens atores não conseguem criar nuances tão interessantes quanto seus colegas de elenco. Em determinados momentos, enquanto você torce para saber o que aconteceu no passado, a narrativa é cortada por momentos menos interessantes com Ana e Chico. Este desequilíbrio está longe de deixar o filme decepcionante, especialmente por conter canções que em conjunto compõem uma atmosfera quase hipnótica ao longo da sessão. Vale ressaltar a sinceridade com que o roteiro se esquiva dos clichês sobre filme de casais, trata-se de um baita presente da estreante Joana Mariani para a prima, Luiza que apresenta aqui a melhor atuação de sua carreira. 

Todas as Canções de Amor (Brasil / 2018) de Joana Mariani com Luiza Mariani, Julio Andrade, Bruno Gagliasso e Mariana Ruy Barbosa.

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