A cineasta Chloé Zhao se tornou uma das pessoas mais faladas na última semana devido ao seu terceiro filme, Nomadland, que recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ainda que não seja muito conhecida do grande público, Chloé tem um histórico de filmes que sempre dão o que falar. Sua estreia com Songs My Brothers Taught Me (2015) foi premiada em Sundance e seu filme seguinte, Domando o Destino apareceu em várias listas de melhores do ano (em algumas sendo o considerado "o melhor" de 2017). A repercussão de seu trabalho foi tão grande que ela caiu no radar da Marvel que a convidou para realizar Os Eternos com estreia prevista para o ano que vem (e admito que fico bastante curioso para ver o resultado desta combinação). Domando o Destino conta a história de um peão de rodeio que após um acidente tenta voltar à sua antiga vida. Logo no início vemos Brady (Brady Jandreau) com vários pontos recentes na cabeça e uma sensação de dor contante em seu rosto. Aos poucos conhecemos um pouco mais sua família, seus amigos e seu desejo de voltar a montar assim que estiver plenamente recuperado. No entanto, não demora para perceber que com enjoos constantes, desmaios e uma reação adversa em sua mão que a situação é bem mais complicada do que ele esperava. Some isso aos encontros com um amigo que sobreviveu a um acidente com consequências ainda mais graves (que parece uma espécie de lembrança de que poderia ter acontecido algo muito pior aos dois) e você terá ideia do que se passa na cabeça do rapaz. Apesar das dificuldades, Brady ainda é uma celebridade local, vez por outra algumas pessoas pedem para tirar fotos com ele, ou até mesmo o reconhecem quando começa a trabalhar em um mercado local. Enquanto nutre o sonho de voltar a montar para driblar a sensação de vazio que o acomete, seu pai e a realidade em seu redor insiste em demonstrar para ele que não é seguro retornar. Com este material nas mãos, Chloé Zhao faz uma verdadeira ode aos cowboys modernos. Utiliza cenas que celebram imagens clássicas do cinema que celebraram este tipo de personagem, muitos planos abertos, a planície com a linha do horizonte distante, a cavalgada ao nascer do sol e até a máxima "um homem tem que fazer o que ele tem que fazer", estes elementos apenas colaboram para apresentar a força e a determinação de um personagem que se encontra com o corpo fragilizado. Zhao constrói um filme intimista, real e emocionante que quase sempre não precisa de palavras para ilustrar o que vemos na tela. Ao terminar o filme fui pesquisar sobre o seu ator principal e descobri que Brady Jandreau foi a inspiração para construção do filme. Ele nunca havia trabalhado como ator (o que deixa seu trabalho ainda mais notável), era domador de cavalos e realmente sofreu um acidente parecido com o do personagem. Sua família no filme é sua família na vida real e deixa aquela pergunta de até que ponto vai a ficção do filme. Domando o Destino constrói uma sensação de verdade embalada por uma fotografia impressionante e se destaca pela sensibilidade com que conta sua história.
Domando o Destino (The Rider / EUA -2017) de Chloé Zhao com Brady Jandreau, Tim Jandreau, Lilly Jandreau, Leroy Pourier, Cat Clifford e Lane Scott. ☻☻☻☻
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