Alda e Burstyn: adultério elaborado.
Tudo Bem no Ano que Vem é uma das comédias românticas mais cultuadas da década de 1970. Lançado em 1978 é curioso notar que com mais de três décadas do seu lançamento o filme ainda consegue ser divertido e até moderninho para os dias atuais - mais até do que o recente Um Dia (2011) que possui uma ideia bastante parecida. Para fazer a história funcionar, o diretor Robert Mulligan teria que driblar dois grandes desafios: o primeiro deles é sua essência extremamente teatral, já que a peça do dramaturgo Bernard Slade mantem somente dois personagens em cena a maior parte do tempo num mesmo cenário (um quarto de hotel); o segundo desafio (e este sendo o mais difícil) é tentar equilibrar a história de dois amantes mesmo quando a pieguice parece inevitável. Nem sempre o filme consegue escapar dessas armadilhas, mas o resultado consegue ser interessante principalmente pela dinâmica entre a dupla Alan Alda e Ellen Burstyn que valorizam ainda mais o roteiro afiado. Eles interpretam, respectivamente, George e Doris. Os dois se conhecem logo na cena de abertura numa longa conversa - a qual não ouvimos - ao som de uma trilha sonora melosa - e na próxima cena os dois estão sobre uma cama, e pela cara de George sabemos que aquilo representa uma encrenca. Não demora muito para descobrirmos que os dois possuem famílias e filhos. Se George aparenta ser um contador certinho, aos poucos ele se mostra quase um adolescente com suas mentiras pueris (dizer que tem dois filhos ao invés de três para dar a ideia de que é menos casado) e jeito nervosinho (ao ponto de ter uma crise de consciência quando a filha liga para dizer que perdeu um dente e a Fada do Dente não irá deixar-lhe um mimo), Doris aparenta um ar ingênuo que no decorrer dos anos deixa espaço para que evidencie o quanto está conectada com as tendências dos anos em que vive. Acompanhamos a vida do casal na única vez que se encontram num ano, no mesmo fim de semana do mesmo mês naquele mesmo hotel de cenário bucólico. No entanto, o roteiro tem a eficiência de mostrar esse encontro de cinco em cinco anos, ressaltando as mudanças de ambos e da sociedade em que viviam, tanto que entre um encontro e outro, o diretor insere fotos de pessoas e situações que marcaram aquele período - isso ajuda a dar ainda mais graça quando Doris aparece irresistível com um visual Marilyn Monroe ou quando posa de riponga quando George se mostra um conservador bem diferente do homem que conheceu anos atrás. O roteiro sempre arma uma surpresa para que os encontros sejam divertidos e surpreendentes! Há de se reconhecer que Ellen e Alan nunca se satisfazem de deixar as mudanças de seus personagens restrita aos figurinos. Assim, deixam visível como a maturidade chega aos dois através das mudanças históricas que vivenciam - seja com a independência da mulher no decorrer das décadas que o filme atravessa ou nas marcas que fatos históricos deixaram na vida de ambos. O filme ainda ganha um tempero especial para aqueles que deixaram em sua memória a imagem da Ellen magnificamente deteriorada de Réquiem Para um Sonho (2000), que lhe valeu sua sexta e última indicação ao Oscar. Aqui ela conseguia sua quarta indicação ao Oscar, a primeira depois que levou para casa o prêmio por Alice Não Mora Mais Aqui (1974) de Martin Scorsese. Já Alan Alda, apesar de ter seis Globos de Ouro na estante (e mais dez indicações no currículo), só foi indicado ao Oscar como coadjuvante em 2005 por sua atuação em O Aviador (ironicamente, também assinado por Scorsese), aqui, a dupla está em plena sintonia em momentos mais românticos e divertidos que as últimas comédias românticas que você assistiu recentemente. Esqueça a trilha sonora cafona e divirta-se com este filme que está prestes a receber uma refilmagem assinada pelos irmãos Jay e Mark Duplass (de Cyrus/2010).
Tudo Bem no Ano que Vem (Same Time, Next Year/EUA-1978) de Robert Mulligan com Ellen Burstyn e Alan Alda. ☻☻☻☻
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